sábado, 3 de julho de 2010

MINHA ÚLTIMA NAMORADA

Dentre todos os animais racionais, os viúvos são os que mais sofrem com o patrulhamento da “sociedade”. Patrulhamento só não, são alvos também de uma infinita curiosidade. Não consigo entender o porquê, só sei que as outras espécies como os solteiros, amigados, separados, divorciados e casados estão fora desse patrulhamento, assim como da curiosidade.

Conversando outro dia com meu irmão sobre esse assunto ele até que tentou me dar uma interpretação para esse fenômeno. Ele, meu irmão, pertence à classe dos divorciados. Além disso, é economista, estatístico e matemático. Não sei não... Em todo caso escutei atentamente a sua “tese”.

Segundo meu irmão, os viúvos, estatisticamente falando, já estão com os filhos maiores de idade, casados e encaminhados na vida. Em outras palavras, os viúvos moram sozinhos, e às vezes curtem a solidão, inclusive em alguns finais de semana. E ele prossegue: a maioria dos viúvos possui alguma espécie de aposentadoria, sem herdeiros, que seria da sua namorada. Foi mais ou menos isso que meu irmão me explicou. Como falei, não sei não... Achei a explicação um tanto quanto matemática. Será que eu, como viúvo, sou apenas isso? Não creio, ou melhor, não quero crer. Mas, continuando o papo com meu irmão, comentei com ele que percebo, nas entrelinhas das minhas conversas com determinadas pessoas, certa curiosidade com relação a minha última namorada. Meu irmão escuta calado, só balançando a cabeça. Não entendi direito aquele balançar de cabeça, mas, enfim, isto não vem ao caso agora.

O fato é que toda esta conversa serviu para eu ficar ainda mais convicto que a minha última namorada, é a de sempre. Entendo perfeitamente o poeta inglês, quando afirma que “curiosidade é a sede do espírito”. O viúvo desperta de um modo geral nas pessoas, essa curiosidade, que na verdade é o desejo humano da descoberta. Prefiro as dúvidas que unem as pessoas. Compreendo este tipo de curiosidade. Minha última namorada é a de sempre... Hoje completa 66 anos de nascimento e quatro de saudade. Mas como bem disse um dia Tristão de Ataíde: “saudade é a presença da ausência”.

Gabriel Novis Neves
04/07/2010

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