sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Confissões de Um Velho Amigo



Sempre nos encontramos e a nossa conversa gira sobre os fatos do momento e música. Hoje foi diferente e fiquei surpreso com a espontaneidade do meu amigo. Respondendo ao meu bom dia relata-me algo que o incomodava. Percebi que ele estava precisando de alguém para desabafar. Sinalizei de maneira silenciosa e respeitosa que as porteiras do meu coração estavam abertas para ouvi-lo. Não fiz nenhuma pergunta e ele começou:

“- Casei-me cinco vezes e estou só. Não fui preparado para a vida conjugal. A culpa é minha. Arrumei agora uma namoradinha de vinte anos. Moreninha, carinhosa, toda dengosa. É gente humilde, porém saudável. Vamos sempre ao motel. Não tenho preconceitos com mulheres que amo. Faço questão de lhe tirar as roupas. Depois a cubro de beijos e mais beijos, num material anatômico todo original e durinho. O delírio dela é total e repetido respondendo ao meu carinho fogoso. Satisfaço-me vendo-a feliz, mas sou obrigado a fazer o principal e para o sessentão as coisas geralmente saem uma porcaria. Ela já me aconselhou a tomar um remedinho azul. Tive uma péssima experiência na primeira e única vez que tomei. Na volta para casa sujei todo o traseiro da calça com uma disenteria não programada. Este não tomo mais.”

Ouvia tudo em silêncio. Quando terminou a catarse disse-lhe que o que acabara de me relatar era muito semelhante aos textos de Nelson Rodrigues – “Na vida como ela é.” Lembrei-lhe também que o Glauber Rocha poderia fazer um filme de sucesso com a história contada. Sorriu e permaneceu calado. Entendi que desejava uma consulta do velho médico.

Comecei informando-o que o tal remedinho azul foi pesquisado para ser o hipotensor ideal de um grande laboratório. Após os testes em animais os cientistas constataram o seu excelente efeito vaso dilatador. Agora faltava a última etapa para ser liberado para o consumo: o teste em humanos. A experiência seria em pessoas idosas com pressão arterial maligna. Após dias de explicações aos pacientes crônicos internados em hospitais universitários, a maioria já com seqüelas da doença, o grupo de pacientes aceitou a tomar o novo remédio salvador. A observação dos pacientes em uso do novo medicamento era diária com uma ampla planilha onde logo se confirmou a diminuição da pressão arterial. Ao término de duas semanas nenhum efeito colateral importante foi anotado. Em compensação os velhinhos, sem exceção disseram aos cientistas que, após muitos anos, começaram a ter ereções vigorosas.
O meu companheiro me interrompe e indaga se a descoberta foi por acaso. Respondo que a maioria das novas conquistas científicas aconteceu desse modo. Lembra-se do Newton que estava sentado embaixo de uma árvore e um fruto caiu sobre a sua cabeça? Achou interessante a explicação. Como não dou conselhos, sugeri que não contrariasse a sua namoradinha de vinte anos. E a diarréia? Provavelmente foi efeito tardio de uma feijoada de sábado.

Gabriel Novis Neves
09-05-09

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