segunda-feira, 26 de outubro de 2009

APELIDOS

Cuiabá possuía nações indígenas destacando-se as do Paiaguás e Coxiponés. Foram totalmente dizimadas pelos nossos bravos bandeirantes. Como cidade de índios, seria natural que os seus filhos fossem chamados de índios ou indiozinhos. Herdamos o carinhoso apelido de bugre e bugrinhos.


Quando nasci, existiam tantos bugres por aqui que era necessário usar um sobrenome para melhor identificação. Assim surgiu o bugre do bar, o do porto, o da padaria, o do cemitério, o do açougue, o do ônibus e lá se vão os sobrenomes geralmente de acordo com a sua profissão. Os sem profissão, eram chamados de Bugre com sobrenome: o Bugre do Henrique, o Bugre do Jorge, o Bugre do Arruda, etc. seus filhos eram bugrinhos.


Por direito adquirido eu seria bugrinho, filho do Bugre do Bar. Perdi o apelido para dois amigos mais velhos, baseado na lei onde tempo é direito. Um era o bugrinho da mandioca, filho de Dona Janoca, mais tarde famoso, como Silva Freire. O outro bugrinho famoso era jogador de futebol (Americano Futebol Clube) e músico do carnaval. Não tive como competir com esses dois ícones da nossa cuiabania.


Ao completar 70 anos ganhei como presente de aniversário um apelido carinhoso de um amigo batalhador: “Índio Véio.” Será que o Villa, possuidor do direito autoral do “Índio Véio”, tentou resgatar a história da nossa cidade indígena? Lembrar aos jovens que tínhamos índios de verdade pescando no rio Cuiabá? Índios proprietários desta enorme área, mais tarde chamada de Cidade Verde? Índios guardiões dos nossos tesouros e segredos?


E esses proprietários das terras sagradas deste pedaço do Brasil eram solidários com seus visitantes. Os paulistas que aqui chegaram atraídos pelas nossas riquezas ficaram empacados às margens do rio Cuiabá e não sabiam pescar. Os índios que a tudo percebiam, se aproximaram dos visitantes e ofereceram o que retiravam do rio para sua sobrevivência.


Um dia, com o rio cheio, os nativos não conseguiram retirar o peixe, e foram solenemente castigados e humilhados pelos visitantes. Embrenham-se na mata e no local onde hoje é a Igreja de São Benedito, retiram uma gigantesca pedra de ouro e levam aos seus algozes. Os índios e o ouro desapareceram de Cuiabá.


O Villa ressuscita a história para a reflexão sobre a invasão de “benfeitores”, me concedendo o título de “Índio Véio” que muito me honra.

Gabriel Novis Neves
21 de Outubro de 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.