sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A VISITA QUE NÃO VEIO


Quando eu exercia a reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso, a minha casa, na rua Major Gama, no Porto, vivia cheia de visitas.

 

Não eram convidadas. Simplesmente vinham.

 

À noite, após o expediente administrativo na UFMT, muitos dos seus técnicos e docentes apareciam por lá. Era o momento de repassar os fatos do dia.

 

Todos eram jovens e essas conversas se estendiam até altas horas.

 

Deputados, após a sessão noturna da Assembleia Legislativa, também seguiam para lá, em rodas animadas com whisky, liderados pelo Canelas.

 

Milton Figueiredo, Augusto Mário Vieira (deputado e cassado), Bento Machado Lobo — eram presenças frequentes.

 

Nas noites de sexta e sábado, Fernando Pace e Sonia Pereira jogavam biriba com a minha mulher, até o dia clarear.

 

Depois, saiam para comprar bolo de arroz quentinho, feito na hora, e tomar com cafezinho passado na hora.

 

O único jogo que aprendi foi o xadrez. De cartas, nunca entendi nada.

 

Até o governador quando por aqui, dava uma passada.

 

Jornalistas como J. Maia, Caio Turqueto, Gilson de Barros, radialista Dirceu Carlino — eram ausências sentidas.

 

Nunca convidei, tampouco esperei por alguém que não aparecesse — e isso revela o verdadeiro valor da presença.

 

Éramos todos amigos, uns desde a infância como o Augusto Mário Vieira, afilhado de meu pai.

 

Certa ocasião, vendo a casa cheia, ele fez uma profecia:

 

— Esta será a última casa cuiabana!

 

Quando fechar, não teremos mais onde ir à noite para conversar.

 

Acertou em cheio!

 

Logo me mudei para um edifício de apartamentos, e a casa do Porto virou ponto comercial.

 

As visitas foram desaparecendo aos poucos.

 

Também deixei de esperar por elas — mas conservei o afeto, a lembrança, a expectativa e o valor das suas presenças.

 

Hoje, evito receber visitas, participar de aglomerações ou reuniões em casa — precaução contra infeções virais, frequentes nos mais velhos.

 

Os encontros se reduziram aos almoços de sábado com filhos, noras, genro, netos, bisnetos e babás — quando não estão viajando.

 

E a visita que não veio...

... se encontra agora pelo WhatsApp — sinal dos tempos modernos.

 

Gabriel Novis Neves

06-08-2025




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