O Cineteatro de Cuiabá foi inaugurado em 1942, ao lado do Grande Hotel, na Avenida Presidente Vargas, pelo interventor Júlio Muller.
As salas ainda eram amplas, com cortinas pesadas e cadeiras de madeira.
Havia filas, cartazes pintados à mão e o tradicional intervalo para comprar pipoca. Antes disso, havia chegado à Cuiabá um armênio chamado Lázaro Papazian.
Ex lutador de box, trabalhava em circos itinerantes, sempre afastados da cidade.
Também era dono de um ‘cinema poeira’, que funcionava numa oficina de automóveis abandonada, na rua de Baixo, próximo à Praça da República.
Casou-se com uma simpática poconeana — dona Adelaide.
Alugou um sobrado na pracinha da rua de Baixo e montou um moderno estúdio fotográfico, consagrando-se como o famoso ‘Foto Cháu’.
Foi uma das figuras queridas da Cuiabá de outrora.
Fazia questão de manter a mesa sempre farta, e dona Adelaide era exímia cozinheira e quituteira.
Eu frequentava a casa do Cháu e também o seu pequeno cinema, sem cortinas pesadas, com algumas cadeiras de madeira.
Muitas vezes assistia aos filmes de pé ou sentado no chão — e era uma farra.
Chamava atenção sua enorme motocicleta que ele trouxera de São Paulo.
Diziam que inventava muitas histórias fantasiosas.
A mais célebre foi quando, de madrugada, teria acompanhado e fotografado o Presidente Dutra visitando o túmulo da mãe no Cemitério da Piedade.
Mais tarde, mudou-se para uma casinha na rua do Meio.
Na frente, funcionava o Studio Foto Cháu; nos fundos, morava com a família.
Um incêndio destruiu grande parte da memória visual de Cuiabá que ele havia registrado.
Educou muito bem os filhos.
Um deles se tornou especialista em jornalismo cinematográfico, escrevendo para os grandes jornais de São Paulo.
Anos depois, convidei-o para fundar a Cinemateca da UFMT, que funciona com sucesso até hoje.
E assim, a memória da nossa cidade vai se esvaindo com o tempo.
Gabriel Novis Neves
13-08-2025
LÁZARO PAPAZIAN |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.