O que ouve um banco de praça ao longo do dia? Ele recebe, paciente, o peso dos casais, dos aposentados, dos solitários, das crianças.
Moro desde sempre, perto de praças.
Aprendi a observar o silêncio de seus bancos, que guardam segredos como cofres ao ar livre.
De manhã, eles acolhem namorados que falam baixo, como se temessem acordar o mundo. Aposentados repousam os olhos no passado e enxergam, no vento, lembranças que só eles conhecem.
O solitário se refugia ali com seu jornal, enquanto as crianças, fazem da praça um território de risos.
À sombra generosa de uma árvore, um motorista de taxi, estica as pernas. E assim se forma, todos os dias, uma plateia invisível para o espetáculo da vida.
Sempre há, nos cantos da praça, um parquinho que gira o tempo para trás.
A primeira que conheci assim foi em 1939, no Lido, em Copacabana.
Eu, meus pais e meus irmãos Yara e Pedro.
O escorregador brilhava ao sol, os balanços cortavam o ar com gritos felizes.
Até hoje, se fecho os olhos, sinto a maresia chegando do Posto 2.
Hoje, é a Praça Popular que me acompanha. Meio século de existência, meio século de histórias. De dia, as crianças gritam; os casais prometem amores eternos; os aposentados revivem o que foi; o solitário interroga a própria vida.
Sem bancos, a praça não seria praça. Seria apenas um largo, como tantos outros que conheci — Alencastro, República, Mandioca.
Os pombos também têm vez: pousam confiantes, bicando grãos de milhos que mãos anônimas espalham.
Praças são fábricas de inspiração. Já fizeram nascer músicas, poemas e até programas de televisão — como A Praça é Nossa, onde um único banco é cenário para todas as histórias. Quem nunca se sentou num banco de praça, inventando mil razões para ali ficar mais um pouco?
Gabriel Novis Neves
09-08-2025
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