domingo, 24 de agosto de 2025

A PRIMEIRA CHUVA


Ontem à noitinha a enfermeira que cuida de mim — e que mora no bairro Dr. Fábio — contou-me que no CPA IV, vizinho ao dela, tinha chovido.

 

Foi uma chuva branda, de pouca duração, mas suficiente para deixar a terra molhada, exalando aquele cheiro gostoso, tão do agrado nosso!

 

Logo se fez correria para recolher as roupas do varal!

 

Era o anúncio da temporada de chuvas: o barulho nas telhas, o alívio do calor abafado.

 

Uma amiga que mora no mesmo bairro que eu notou alguns pingos fortes, rápidos.

 

Não percebi nada, embora o asfalto da rua estivesse molhado.

 

Uns dizem que essa é a chuva da manga, outros, a do caju.

 

Quando eu era criança, em agosto, os mangueirais se enchiam de frutos maduros.

 

No sete de setembro costumava chover, e o quintal ficava com o solo forrado de mangas.

 

E os cajueiros, por sua vez, estavam repletos de frutos tão cuiabanos!

 

Quantas lembranças despertam o início da temporada das chuvas!

 

O verde das árvores transformava Cuiabá em verdadeira ‘Cidade Verde’, tão amada pelos antigos e pelos poetas!

 

Os primeiros pingos traziam sempre uma renovada esperança de dias melhores, com o perfume da terra molhada e o frescor que suavizava o calor sufocante.

 

O solo se preparava para a primavera, tempo de flores, prenúncio do fim do ano.

 

Nessa época do ano, lembranças antigas afloram na memória, trazendo de volta fatos quase esquecidos: a escola primária, o curso de Medicina no Rio de Janeiro...

 

Quantas esperanças me acompanharam no retorno à cidade natal para o imprevisível exercício da Medicina, quando os sonhos se transformaram em realidade.

 

A primeira chuva do ano sempre vem carregada de passado incerto e de futuro cheio de certezas.

 

Mesmo aos noventa anos ainda tenho idade para sonhar com dias melhores!

 

Gabriel Novis Neves

21-08-2023




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