Ontem à noitinha a enfermeira que cuida de mim — e que mora no bairro Dr. Fábio — contou-me que no CPA IV, vizinho ao dela, tinha chovido.
Foi uma chuva branda, de pouca duração, mas suficiente para deixar a terra molhada, exalando aquele cheiro gostoso, tão do agrado nosso!
Logo se fez correria para recolher as roupas do varal!
Era o anúncio da temporada de chuvas: o barulho nas telhas, o alívio do calor abafado.
Uma amiga que mora no mesmo bairro que eu notou alguns pingos fortes, rápidos.
Não percebi nada, embora o asfalto da rua estivesse molhado.
Uns dizem que essa é a chuva da manga, outros, a do caju.
Quando eu era criança, em agosto, os mangueirais se enchiam de frutos maduros.
No sete de setembro costumava chover, e o quintal ficava com o solo forrado de mangas.
E os cajueiros, por sua vez, estavam repletos de frutos tão cuiabanos!
Quantas lembranças despertam o início da temporada das chuvas!
O verde das árvores transformava Cuiabá em verdadeira ‘Cidade Verde’, tão amada pelos antigos e pelos poetas!
Os primeiros pingos traziam sempre uma renovada esperança de dias melhores, com o perfume da terra molhada e o frescor que suavizava o calor sufocante.
O solo se preparava para a primavera, tempo de flores, prenúncio do fim do ano.
Nessa época do ano, lembranças antigas afloram na memória, trazendo de volta fatos quase esquecidos: a escola primária, o curso de Medicina no Rio de Janeiro...
Quantas esperanças me acompanharam no retorno à cidade natal para o imprevisível exercício da Medicina, quando os sonhos se transformaram em realidade.
A primeira chuva do ano sempre vem carregada de passado incerto e de futuro cheio de certezas.
Mesmo aos noventa anos ainda tenho idade para sonhar com dias melhores!
Gabriel Novis Neves
21-08-2023
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