Aquela mala, guardada no alto do armário, cheia de planos que ficaram para depois, nunca viaja.
Grande parte da minha vida ativa passei em deslocamentos.
Todas as semanas ia a Brasília resolver questões ligadas à implantação da nossa universidade federal, durante onze anos.
Antes e depois disso, minhas viagens eram menos frequentes, especialmente quando exerci cargos de secretário de Estado.
O Rio de Janeiro e outras capitais brasileiras também estavam entre meus destinos.
Nessas viagens de trabalho, sempre levava apenas uma maleta de mão.
Ainda assim, lembrava daquela enorme mala esquecida no alto do armário — a mesma que só havia usado na longa viagem da lua de mel.
Pensei em utilizá-la nas férias com a família, mas só tive aborrecimentos.
Seu peso ultrapassou o limite permitido e precisei pagar taxa extra.
Na esteira da Polícia Federal do aeroporto, tive que abri-la e acabei perdendo duas garrafas de vinho estrangeiro que havia ganhado no Natal.
O pior, porém, foi na nossa chegada: a frustração de não ver a mala.
Lembro-me também da primeira colação de grau dos alunos de Medicina da, hoje, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande.
Eu fora convidado, como vice-chanceler da universidade, para o ato solene daquela noite.
O avião partia de Cuiabá antes do almoço.
Resolvi embarcar de calça e camisa, despachando na mala minha roupa de gala.
A parada no aeroporto da Base Aérea de Campo Grande foi rapidíssima.
Logo o avião seguiu para São Paulo, seu próximo destino.
Quando cheguei à esteira de desembarque, ela já girava vazia.
Fui ao balcão reclamar.
O funcionário informou que a mala tinha partido para São Paulo, mas garantiu que voltaria no voo da meia noite e seria entregue no meu hotel.
Para comparecer a solenidade, precisei emprestar um blazer escuro e uma gravata.
Essas são as lembranças que guardo daquela mala, no alto do armário do meu quarto.
Gabriel Novis Neves
08-08-2025
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