É
frequente nas entrevistas que dou para estudantes que estão formatando teses de
conclusão de curso universitário ou pós-graduação, responder a pergunta:
“Doutor, como tudo começou?”
Sempre
fui muito honesto em minhas respostas aos jovens e, há anos, sempre a
declaração é a mesma - minha vida profissional começou ao contrário.
A
curiosidade juvenil aumenta. Quer saber como alguém construiu uma vida cheia de
realizações nas áreas da saúde e educação ao contrário, e no poder público.
Simplesmente
aconteceu, reafirmo.
Explico:
ao terminar o meu curso de medicina no Rio de Janeiro, e não me sentindo seguro
para ser médico do interior, aquele que, não sendo especialista, tinha de
conhecer todos os males do corpo e da alma, preferi ficar no Rio por conta de
uma própria programação e estagiar nas mais diferentes clínicas da medicina
básica.
Embora
o meu foco fosse, desde cedo, a ginecologia e obstetrícia.
Hoje
esses médicos são chamados de “médicos da família”, e o Brasil está importando
esses profissionais.
Quando
adquiri conhecimentos científicos que me tranquilizaram, retornei à minha
Cuiabá.
Ao
chegar, meus dois colegas de turma já eram profissionais muito bem conceituados
no mercado de trabalho.
Fiquei
apenas um ano como médico generalista, atendendo os “indigentes” na Portaria da
Santa-Casa - nome mais tarde alterado para Pronto Atendimento e Partos na
Sociedade Beneficente de Proteção a Saúde da Mulher e da Criança, duas
entidades filantrópicas.
Nesse
período recebi ajuda dos meus colegas mais antigos para sobreviver,
auxiliando-os nas suas cirurgias particulares.
Isso
demorou pouco mais de um ano, quando fui convocado a assumir a direção do único
hospital psiquiátrico público no Estado ainda não dividido.
Foi
o começo da minha carreira profissional ao contrário.
Dois
anos depois, nova e perigosa missão. Fui “promovido” para ocupar o cargo de
secretário de educação do colossal Estado.
Três
anos se passaram e o grande desafio da minha vida: implantar uma universidade
federal na selva.
O
pior é que não me julgava capacitado para o exercício dessas funções, sempre
ocupadas por servidores de carreira como prêmio final antes da aposentadoria.
Nunca
pensei em ser administrador público. Preparei-me para ser um útil médico do
interior, o que me foi negado pelo destino.
No
início recebi essas missões como coisas ruins, opinião compartilhada pelos meus
colegas.
Depois,
reparei que elas foram mais facilmente metabolizadas por mim do que as boas
coisas.
Tudo
que é considerado bom costuma ter um início amargo. A vida é mesmo
incompreensível, e essa genética do contrário continua a prevalecer na minha
vida afetiva e profissional.
As
artimanhas do acaso continuam me surpreendendo pela vida afora...
Continuo
vivendo ao contrário, e muito feliz.
Gabriel
Novis Neves
05-02-2014
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