Realmente,
nós brasileiros somos uma mistura, não só étnica, mas, principalmente, de
contradições assustadoramente conviventes.
Somos
um país em que:
-
programas televisivos de entretenimento colocam num mesmo patamar, e juntos
dançando funk, moradores e policiais de comunidades, tudo feito com a presença
e o aplauso do chefe de polícia de um Estado.
-
a prostituição, apesar de não legalizada, exibe como troféu uma jovem que
leiloa na mídia a sua virgindade, com excelente retorno comercial.
-
políticos altamente corruptos e condenados pelo mais alto poder do país,
reassumem postos de destaque na hierarquia governamental.
-
participantes de programa de televisão de baixo nível são chamados publicamente
de heróis pelo seu apresentador.
-
mulheres que tiveram como representantes femininas pessoas de alto nível num
passado próximo, voltam a ser estigmatizadas como mulheres fruta, tendo seu
ibope aumentado no mercado da carne.
-
idosos, após uma longa vida de trabalho, são desrespeitados por meio de
aposentadorias ridículas, enquanto parlamentares, após quatro anos, com
frequência de desserviços, se aposentam com vencimentos integrais.
-
médicos e professores, baluartes de uma sociedade bem estruturada, são
agraciados com sub-salário e sub-respeito.
-
um presidente inculto apregoa com orgulho na televisão o triste fato de nunca
ter lido um livro.
-
pessoas capazes profissionalmente são rejeitadas em prol de outras com alto
índice QI (quem indica).
-
verbas para educação e saúde são preteridas em favor daquelas para propaganda
governamental e compra de votos de parlamentares coniventes com os esquemas de
corrupção.
-
as nossas lindas e extensas praias são celeiros da mais absoluta democracia,
quando as mais diferentes tribos, praticamente desnudas, convivem num clima de
perfeita harmonia. Esse é o lado bonito dos nossos contrastes.
-
pessoas assalariadas gastam em três dias de folia os seus minguados recursos,
na fantasia de se tornarem reis ou rainhas, ainda que por um curto período.
-
adeptos do amor sem preconceito, totalmente livre, reinvidicam leis que tolhem
essa mesma liberdade.
Seria
cômico se não fosse trágico. Mas, assim é a nossa querida República que, como
uma jovem senhora promíscua, transmite aos seus filhos um legado de desencanto
e de apatia.
Como
se egressos de um sonho, quem sabe um dia acordaremos mais otimistas e mais
confiantes com o destino de tão belo país?
Quem
sabe uma nova “PASSARGADA”, em que eu, mesmo não sendo rei, teria os meus
direitos respeitados.
Gabriel Novis Neves
22-01-2013
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