quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

CARNAVAL EM CUIABÁ


Silêncio, chuva, frio, ruas desertas. Restaurantes, bares, botecos e botequins quase vazios. Clubes fechados. Ausência total de manifestação da nossa maior expressão de cultura popular. Este foi o cenário da minha cidade no período momesco.
Dei uma volta de carro pelos principais pontos da cidade e o que menos encontrei foi gente. Nunca o trânsito esteve tão bem organizado como no período de carnaval.
Nos bairros populares, um ou outro sinal de festa.
Qual a explicação para essa mudança de hábito cultural na cidade mãe da nossa cultura?
E o esvaziamento da nossa capital, transformada em uma incrível cidade fantasma?
O nosso carnaval de rua até há pouco tempo era fortíssimo.
Blocos organizados e avulsos de foliões lotavam as nossas ruas, avenidas, bairros, especialmente o Centro Histórico (em demolição).
Bares lotados, carros decorados para desfiles com as moças da cidade faziam o famoso e apreciado corso.
Mascarados, índios, colombinas, pierrôs, crianças, adultos e idosos realizavam a alegria da cidade e da turma do Bar do Bugre, com salões lotados e mesas pelas calçadas apinhadas de gente daqui e de fora.
A velha vitrola tocava sem parar as marchinhas carnavalescas de sucesso, para delírio de todos.
Existiam os que saíam fantasiados, e outros usavam “pequenos disfarces”, como se falava na época. Um bigodinho de lápis preto em rosto juvenil, ou um batom exagerado em boca adolescente, era disfarce suficiente para se brincar o bom carnaval.
Serpentinas, confetes, vidros e latas de lança-perfumes eram vendidos para brincadeiras dos foliões.
A cidade recebia decoração especial. Por alguns anos esse trabalho de pura arte ficou sob a responsabilidade de um dos maiores programadores visual do Brasil, duas vezes vencedor do concurso para a decoração carnavalesca do Rio de Janeiro, o nosso querido companheiro Wlademir Dias Pino.
E o desfile das nossas Escolas de Samba? Na nossa memória, pelo menos duas das mais recentes jamais irão desaparecer: “Deixa Cair” e “Mocidade Independente Universitária”, pela beleza plástica e enredos maravilhosos.
Era a nossa Mangueira, tão junta de nós com a nossa alma e corpo. Hoje tão distante e tão cara, comprada pela prefeitura de Cuiabá para incentivar o turismo em uma cidade que não tem como receber o turista, e ainda expulsa os nativos para folias bem distantes daqui.
E o pior é que a comunidade mangueirense desfilou desmotivada, pois Jamelão é a alma da Escola, e Cuiabá representa para eles apenas o capital para os lucros da Estação Primeira.
Mataram também o nosso carnaval popular.
Os altos funcionários do governo, em massa, ocuparam os camarotes da Sapucaí, financiados com recursos dos nossos exorbitantes impostos.
Os ricos são ricos e fazem o que querem com o seu dinheiro, pois não devem satisfações a ninguém, apenas à Receita Federal.
A tal classe média, tão lembrada pelas estatísticas governamentais, esparramou-se pelos esconderijos próximos de Cuiabá.
A maior vítima deste novo momento cultural por que passa Cuiabá é a nossa mais famosa cidade - a internacional Chapada dos Guimarães.
Sem a mínima estrutura física, de segurança e saúde, vê a sua população ser quintuplicada no Carnaval, onde a folia é substituída pela falta de hotéis, pensões, pousadas, abrigos e “comedores” para tanta gente.
Chegar à cidadezinha musa dos poetas, boêmios e utópicos, é um ato de desamor à vida ao percorrer menos de 50 k de rodovia (?), decorada de buracos, sem pista dupla, canteiro central, meio-fio, calçadas, ciclovias e iluminação.
Cuiabá é uma cidade que perdeu todas as suas conquistas sociais, a sua cultura, em nome desse invisível progresso que a Mangueira tentou nos trazer na alegoria do trem do carnaval.
O que aconteceu e continua acontecendo com o nosso “Paraíso no Centro da América”?
Assim foi o carnaval de Cuiabá.
Eles? Deixa pra lá, é carnaval.

Gabriel Novis Neves
11-02-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.