Silêncio,
chuva, frio, ruas desertas. Restaurantes, bares, botecos e botequins quase
vazios. Clubes fechados. Ausência total de manifestação da nossa maior
expressão de cultura popular. Este foi o cenário da minha cidade no período
momesco.
Dei
uma volta de carro pelos principais pontos da cidade e o que menos encontrei
foi gente. Nunca o trânsito esteve tão bem organizado como no período de
carnaval.
Nos
bairros populares, um ou outro sinal de festa.
Qual
a explicação para essa mudança de hábito cultural na cidade mãe da nossa
cultura?
E
o esvaziamento da nossa capital, transformada em uma incrível cidade fantasma?
O
nosso carnaval de rua até há pouco tempo era fortíssimo.
Blocos
organizados e avulsos de foliões lotavam as nossas ruas, avenidas, bairros, especialmente
o Centro Histórico (em demolição).
Bares
lotados, carros decorados para desfiles com as moças da cidade faziam o famoso
e apreciado corso.
Mascarados,
índios, colombinas, pierrôs, crianças, adultos e idosos realizavam a alegria da
cidade e da turma do Bar do Bugre, com salões lotados e mesas pelas calçadas
apinhadas de gente daqui e de fora.
A
velha vitrola tocava sem parar as marchinhas carnavalescas de sucesso, para
delírio de todos.
Existiam
os que saíam fantasiados, e outros usavam “pequenos disfarces”, como se falava
na época. Um bigodinho de lápis preto em rosto juvenil, ou um batom exagerado
em boca adolescente, era disfarce suficiente para se brincar o bom carnaval.
Serpentinas,
confetes, vidros e latas de lança-perfumes eram vendidos para brincadeiras dos
foliões.
A
cidade recebia decoração especial. Por alguns anos esse trabalho de pura arte
ficou sob a responsabilidade de um dos maiores programadores visual do Brasil,
duas vezes vencedor do concurso para a decoração carnavalesca do Rio de
Janeiro, o nosso querido companheiro Wlademir Dias Pino.
E
o desfile das nossas Escolas de Samba? Na nossa memória, pelo menos duas das
mais recentes jamais irão desaparecer: “Deixa Cair” e “Mocidade
Independente Universitária”, pela beleza plástica e enredos maravilhosos.
Era
a nossa Mangueira, tão junta de nós com a nossa alma e corpo. Hoje tão distante
e tão cara, comprada pela prefeitura de Cuiabá para incentivar o turismo em uma
cidade que não tem como receber o turista, e ainda expulsa os nativos para
folias bem distantes daqui.
E
o pior é que a comunidade mangueirense desfilou desmotivada, pois Jamelão é a
alma da Escola, e Cuiabá representa para eles apenas o capital para os lucros
da Estação Primeira.
Mataram
também o nosso carnaval popular.
Os
altos funcionários do governo, em massa, ocuparam os camarotes da Sapucaí,
financiados com recursos dos nossos exorbitantes impostos.
Os
ricos são ricos e fazem o que querem com o seu dinheiro, pois não devem
satisfações a ninguém, apenas à Receita Federal.
A
tal classe média, tão lembrada pelas estatísticas governamentais, esparramou-se
pelos esconderijos próximos de Cuiabá.
A
maior vítima deste novo momento cultural por que passa Cuiabá é a nossa mais
famosa cidade - a internacional Chapada dos Guimarães.
Sem
a mínima estrutura física, de segurança e saúde, vê a sua população ser
quintuplicada no Carnaval, onde a folia é substituída pela falta de hotéis,
pensões, pousadas, abrigos e “comedores” para tanta gente.
Chegar
à cidadezinha musa dos poetas, boêmios e utópicos, é um ato de desamor à vida
ao percorrer menos de 50 k de rodovia (?), decorada de buracos, sem pista
dupla, canteiro central, meio-fio, calçadas, ciclovias e iluminação.
Cuiabá
é uma cidade que perdeu todas as suas conquistas sociais, a sua cultura, em
nome desse invisível progresso que a Mangueira tentou nos trazer na alegoria do
trem do carnaval.
O
que aconteceu e continua acontecendo com o nosso “Paraíso no Centro da
América”?
Assim
foi o carnaval de Cuiabá.
Eles?
Deixa pra lá, é carnaval.
Gabriel Novis Neves
11-02-2013
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