quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

MERDA


Um experiente jornalista demonstrou toda a sua indignação ao escrever um artigo intitulado “Cuiabá é uma merda?”.
Ele tem toda a razão.
Entra prefeito sai prefeito e a música é sempre a mesma – “encontrei uma merda de cidade para administrar”, seguida de um rosário de dificuldades.
Ora bolas!
Por acaso um candidato a um cargo tão importante não possuía informações sobre o que iria encontrar?
Claro que sim.
Por que então fez propaganda dizendo que o problema da cidade era de gestão?
Depois essa desculpa esfarrapada que a prefeitura não tem dinheiro, as escolas estão desabando, o sistema de saúde está sucateado, o saneamento básico ainda não foi implantado, em uma cidade de quase trezentos anos.
Avenidas e ruas esburacadas, cheias de lixo por falta de coleta eficiente e de um tratamento moderno.
Enfim, uma cidade problema. Resultado da falta de visão dos nossos administradores passados e desinteresse de gerações de cuiabanos.
O correto é assumir o cargo que conquistou no voto por amor a Cuiabá e contribuir para aliviar o drama desta ex-Cidade Verde. 
Mas, todos os governantes escolhem o caminho mais fácil, que é falar sobre as dificuldades encontradas, que não é surpresa para nenhum habitante desta “linda e agarrativa” terra.
O jornalista tarimbado explodiu diante da repetição histórica. Catarse oportuna que me fez lembrar um fato ainda recente.
A nossa Universidade Federal de Mato Grosso foi criada no dia 10/12/70.  Ato publicado no Diário Oficial da União (DOU) de 12/12/70.
O seu Reitor pró-tempore foi nomeado por portaria do Ministério da Educação em 16/03/1971.
A função do reitor pró-tempore era tirar do (DOU) aquele decreto e transformá-lo na UFMT.
Sem mandato, sua permanência no cargo dependia dos resultados apresentados.
Agora o fato histórico, e que não serviu de lição para os gestores
políticos: como a UFMT foi criada em dezembro de 1970, o orçamento federal para o ano seguinte já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional, sancionado pelo Presidente da República e publicado no “DOU”.
O reitor pró-tempore sabia de todas essas dificuldades. Iria implantar uma universidade no portal da Amazônia sem recursos orçamentários.
E o pior. No início de 1971 havia sido discutido e aprovado o orçamento plurianual (1972-1973–1974), e a nossa universidade não se fez presente por falta de um representante institucional. 
Como médico fiz o diagnóstico de aborto precoce, em segredo de justiça, aos meus poucos e competentes companheiros.
A população de Cuiabá jamais soube desse fato dramático que ameaçava matar no nascedouro a esperança de gerações de mato-grossenses.
Doze anos depois tínhamos uma moderna cidade implantada no Coxipó da Ponte, com sucursais em Rondonópolis e Pontal do Araguaia (Barra do Garças).
Estava consolidada e respeitada nos meios científicos nacionais e internacionais a Universidade da Selva.
É a maior usina de desenvolvimento deste Estado e mudou a história geográfica do Brasil.
O desenvolvimento de Mato Grosso teve o seu início no dia 16/03/71 com uma instituição sem recursos.
Diante de tantas dificuldades encontradas, e nunca divulgadas para a população, o ministro Jarbas Gonçalves Passarinho, certa ocasião, saindo da “Casa da Flauta”, que ficava ao lado da “Oca” dos Xavantes no espaço do Museu Rondon, satisfeito com tudo que via, me puxou pelo braço e disse: “todo esse seu trabalho será desmontado. Você sofreu quieto não tendo nem a quem criticar para justificar tantas barreiras, agora transpostas. Os que lhe sucederem, sempre diante de uma dificuldade, jogarão a culpa nos seus ombros”. 
E continuou: “Assim foi com Thomé de Souza, o 1º Governador Geral do Brasil. Foi o único governador que não criticou o seu antecessor. Você será o Tomé de Souza da UFMT”.
Sábias e proféticas palavras do ministro de Xapuri.
É chegada a hora de trabalhar, e não, criticar quase trezentos anos de equívocos.
Cuiabá nunca foi uma merda, embora não tenha rede de saneamento básico onde vemos muitas delas.

Gabriel Novis Neves

30-01-2013

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