Um
experiente jornalista demonstrou toda a sua indignação ao escrever um artigo
intitulado “Cuiabá é uma merda?”.
Ele
tem toda a razão.
Entra
prefeito sai prefeito e a música é sempre a mesma – “encontrei uma merda de
cidade para administrar”, seguida de um rosário de dificuldades.
Ora
bolas!
Por
acaso um candidato a um cargo tão importante não possuía informações sobre
o que iria encontrar?
Claro
que sim.
Por
que então fez propaganda dizendo que o problema da cidade era de gestão?
Depois
essa desculpa esfarrapada que a prefeitura não tem dinheiro, as escolas estão
desabando, o sistema de saúde está sucateado, o saneamento básico ainda não foi
implantado, em uma cidade de quase trezentos anos.
Avenidas
e ruas esburacadas, cheias de lixo por falta de coleta eficiente e de um
tratamento moderno.
Enfim,
uma cidade problema. Resultado da falta de visão dos nossos administradores
passados e desinteresse de gerações de cuiabanos.
O
correto é assumir o cargo que conquistou no voto por amor a Cuiabá e contribuir
para aliviar o drama desta ex-Cidade Verde.
Mas,
todos os governantes escolhem o caminho mais fácil, que é falar sobre as
dificuldades encontradas, que não é surpresa para nenhum habitante desta “linda
e agarrativa” terra.
O
jornalista tarimbado explodiu diante da repetição histórica. Catarse oportuna
que me fez lembrar um fato ainda recente.
A
nossa Universidade Federal de Mato Grosso foi criada no dia 10/12/70. Ato
publicado no Diário Oficial da União (DOU) de 12/12/70.
O
seu Reitor pró-tempore foi nomeado por portaria do Ministério da Educação em
16/03/1971.
A
função do reitor pró-tempore era tirar do (DOU) aquele decreto e transformá-lo
na UFMT.
Sem
mandato, sua permanência no cargo dependia dos resultados apresentados.
Agora
o fato histórico, e que não serviu de lição para os gestores
políticos:
como a UFMT foi criada em dezembro de 1970, o orçamento federal para o ano
seguinte já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional, sancionado pelo
Presidente da República e publicado no “DOU”.
O
reitor pró-tempore sabia de todas essas dificuldades. Iria implantar uma
universidade no portal da Amazônia sem recursos orçamentários.
E
o pior. No início de 1971 havia sido discutido e aprovado o orçamento
plurianual (1972-1973–1974), e a nossa universidade não se fez presente por
falta de um representante institucional.
Como
médico fiz o diagnóstico de aborto precoce, em segredo de justiça, aos meus poucos
e competentes companheiros.
A
população de Cuiabá jamais soube desse fato dramático que ameaçava matar no
nascedouro a esperança de gerações de mato-grossenses.
Doze
anos depois tínhamos uma moderna cidade implantada no Coxipó da Ponte, com
sucursais em Rondonópolis e Pontal do Araguaia (Barra do Garças).
Estava
consolidada e respeitada nos meios científicos nacionais e internacionais
a Universidade da Selva.
É
a maior usina de desenvolvimento deste Estado e mudou a história geográfica do
Brasil.
O
desenvolvimento de Mato Grosso teve o seu início no dia 16/03/71 com uma
instituição sem recursos.
Diante
de tantas dificuldades encontradas, e nunca divulgadas para a população, o
ministro Jarbas Gonçalves Passarinho, certa ocasião, saindo da “Casa da Flauta”,
que ficava ao lado da “Oca” dos Xavantes no espaço do Museu Rondon, satisfeito
com tudo que via, me puxou pelo braço e disse: “todo esse seu trabalho será
desmontado. Você sofreu quieto não tendo nem a quem criticar para justificar
tantas barreiras, agora transpostas. Os que lhe sucederem, sempre diante de uma
dificuldade, jogarão a culpa nos seus ombros”.
E
continuou: “Assim foi com Thomé de Souza, o 1º Governador Geral do Brasil. Foi
o único governador que não criticou o seu antecessor. Você será o Tomé de Souza
da UFMT”.
Sábias
e proféticas palavras do ministro de Xapuri.
É
chegada a hora de trabalhar, e não, criticar quase trezentos anos de equívocos.
Cuiabá
nunca foi uma merda, embora não tenha rede de saneamento básico onde vemos
muitas delas.
Gabriel Novis Neves
30-01-2013
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