quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Enciclopédia

Como todos sabem, estamos na era da informática, do conhecimento virtual instantâneo e globalizado. No entanto, os livros continuam tendo um valor, pelo menos para mim, inestimável e insubstituível.

Em razão disto, fiquei feliz quando minha irmã me presenteou com um livro. Melhor dizendo – uma enciclopédia - Enciclopédia Ilustrada de Mato Grosso.

Fiquei olhando para a enciclopédia e me reportei ao tempo em que meus filhos estudavam. Naquela época, eles não dispunham das informações virtuais, tão em moda hoje em dia.

Eles pesquisavam em livros, mas especificamente, em enciclopédias.

Todas essas valiosas obras fizeram parte do universo de pesquisa de muitos jovens. Mas, os tempos são outros. E as grandes enciclopédias, hoje em dia, estão, infelizmente, relegadas a um plano que não mereciam. A informação virtual – nem sempre confiável – tomou o lugar de honra que lhes cabiam.

Mas, voltando ao presente da minha irmã – a enciclopédia. É um livro com 423 páginas. Como é uma enciclopédia, a leitura é feita por amostragem em assuntos que nos interessam. A enciclopédia e o dicionário são frutos de um trabalho que envolve gente especializada, imparcialidade, tempo e rigorosa supervisão do autor da obra. É uma obra de tanta responsabilidade, que às vezes demora anos de trabalhos em tempo integral.

Em um domingo, com o Botafogo alijado da disputa do título de campeão, resolvi consultar um verbete da Enciclopédia Ilustrada de Mato Grosso - dedicado aos jovens e estudiosos da nossa história.

Essa obra foi realizada e publicada com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, pela Editora Buriti, da Cidade Alta - Cuiabá, com a Coordenação Editorial do ex-Secretário de Cultura do governo anterior.

Procurei, por pura curiosidade, o verbete BUGRE (Bar do). Encontrei-o na página 66. E lá estava escrito: “estabelecimento comercial fundado a 29 de junho de 1920, com o nome de Bar Moderno, em frente à Praça Alencastro, em Cuiabá. O Bar do Bugre passou para a história como um dos estabelecimentos de maior popularidade na capital, pois ali se reunia a nata da cuiabania. Tinha mesas de bilhar e era ponto de encontro da rapaziada. Pertencia aos irmãos Neves (Darci, Clodomiro e João) e durante mais de meio século foi considerado o melhor da cidade”.

Ao ler o verbete, minha alegria foi embora, junto com a confiança que eu depositava na enciclopédia – o verbete possui um erro lamentável de informação.

O Bar do Bugre foi de propriedade, única e exclusiva, do senhor Olyntho Neves, fato grosseiramente ignorado pelo editor da Enciclopédia, feita com dinheiro do contribuinte.

O autor da Enciclopédia parece-me que não levou muito a sério o fator pesquisa que, segundo opinião de Marston Bates, a “pesquisa é o processo de entrar em vielas para ver se elas são becos sem saídas”.

Uma pena que a equipe de pesquisa não tenha se aventurado pelas vielas de Mato Grosso - uma simples visita à Junta Comercial lhe daria todos os dados corretos.

O mais cômico dessa falta de compromisso profissional com os fatos históricos, é que o estabelecimento comercial ficou conhecido pelo nome de Bar do Bugre em homenagem ao Olyntho Neves - o popular Bugre do bar - transformado pela população em Bar do Bugre. A história foi essa.

Nem irei comentar os “equívocos” presentes em outros verbetes. O Bar do Bugre passa a integrar a imensa lista da história falsificada.

Além dos equívocos gritantes, a ausência de muitos fatos e personalidades que fizeram, verdadeiramente, parte da nossa história, relega esta pseudo-enciclopédia a um beco sem saída.

Falta-lhe, sobretudo, o respeito pelo princípio da imparcialidade – fator preponderante para a credibilidade e confiabilidade de uma obra deste porte.

"Aquilo que os homens de fato querem não é o conhecimento, mas a certeza.” (Bertrand Russel)

Gabriel Novis Neves

20-11-2011

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