terça-feira, 8 de novembro de 2011

FALSIFICAR A HISTÓRIA

Tenho idade suficiente para saber que a história que nos é ensinada nos bancos escolares é falsificada, ou distorcida. O meu professor de história não falsificada foi Rubens de Mendonça. Na nossa longa convivência, da Rua do Campo até a universidade, onde era colaborador de ensino, muitos anos se passaram.

Rubinho me contou parte da história de Mato Grosso e do Brasil, que nunca publicou em livros por motivos óbvios.

Recentemente, o jornalista José Nêumanne Pinto, publicou um livro sobre Lula. Perguntado se todos os fatos pesquisados da vida do ex-presidente constavam no livro, ele simplesmente respondeu com um sorriso: “O que foi possível...”.

Sempre que podia, pedia ao Rubinho que me contasse mais sobre a Guerra do Paraguai. A verdadeira história relatada a mim sobre esse conflito internacional - que o Brasil entrou de gaiato e quase extinguiu uma civilização vizinha - levou-me, junto com colegas da UFMT, a elaborar um projeto sobre o assunto e apresentá-lo ao então ministro da Educação Ney Braga.

Ao entregar o documento falei:

- Sr. Ministro. Estou lhe entregando um projeto sobre a verdadeira Guerra do Paraguai. Não é mais possível vivermos assim com os nossos vizinhos. A proposta da UFMT é de uma ampla revisão nos textos escolares dos dois países. O Ministério da Educação pediria auxílio ao Itamaraty e formaríamos uma comissão bilateral de historiadores para a necessária revisão. As nossas crianças, cedo aprendem na escola, que os paraguaios são bandidos, assassinos, torturadores, covardes, ladrões, indivíduos sem caráter, entre outros predicados. Do outro lado da fronteira, muitas vezes separadas por uma rua ou estreito rio, a mesma coisa acontece com as crianças paraguaias, onde os heróis são paraguaios e os bandidos são brasileiros.

Ressaltei ainda que, caso este equívoco histórico não fosse esclarecido, as escolas estariam plantando, entre os alunos, a semente do preconceito, discriminação, ódio e violência.

O ministro a tudo ouviu. A seguir me fez as seguintes perguntas:

- O que faremos com os textos do Taunay, o historiador oficial do Império? E com os nossos heróis cujas frases saíam da pena do Taunay? Como "desheroizá-los"? - “Sei que morro, e o meu sangue e dos meus companheiros servirá de exemplo...” O Brasil é carente de heróis. Não vamos mexer nesses que já estão consagrados.

O projeto morreu na sua entrega oficial, e nunca mais se falou nisso. A minha neta ainda aprende que 100 covardes soldados paraguaios lutaram contra um herói brasileiro e foram dizimados. Se morrer um gado brasileiro nas fazendas da fronteira, a culpa é sempre dos paraguaios, quando é do lado paraguaio são os maus brasileiros os autores do crime.

O PC do B nasceu quando eu já era médico. Houve um grupo do Partidão que se rebelou contra Luis Carlos Prestes, dando origem ao partido do B. Intelectuais, jornalistas, artistas, profissionais liberais, estudantes, operários, perseguidos políticos, e o lendário Oscar Niemayer, foram figuras históricas do Partidão.

O PC do B, na verdade, foi criado para combater o PCB, rico em quadros humanos. O PC do B apelou, e chamou ex-jogadores de futebol, o famoso cantor-apresentador-desrespeitador da Lei Maria da Penha, estudantes donos de ONGs entre outros, para os seus quadros. Para salvar o ex-ministro de Esportes, o PC do B ocupa o horário político gratuito e se apropria indevidamente dos nomes de respeitáveis cidadãos dos quadros do Partidão, como aval para o moribundo ministro.

A esperança é realmente um sentimento que só desaparece com a morte. O ministro, com nome de cantor famoso, estava morto, mas os seus amigos imaginaram que, citando personalidades brasileiras, eles pudessem reverter o quadro.

Esse vídeo ficará para a história e contribuirá, e muito, para a perpetuação da história falsificada.

Gabriel Novis Neves

07-11-2011

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