domingo, 27 de novembro de 2011

PARA QUE ESCONDER

Não existe uma regra universal ou cultural para esconder as doenças que possuímos, e que, às vezes, estão na nossa cara. Conheço, por exemplo, muita gente que não diz, em hipótese alguma, a sua idade, que não é doença.

Quando ela avança, a primeira providência para esconder - quando o certo seria comemorar - é tentar esconder os trajetos que o tempo produziu, com o bisturi.

Lembro daquela historinha que muito ouvi quando criança: “A emenda ficou pior que o soneto.” Ou seja: como estava, estava melhor que agora. Isso acontece em muitos casos.

As rugas simétricas, de tantas histórias, têm o seu trajeto interrompido pelo bisturi sem alma, desmanchando a simetria da natureza.

O nariz olhando para baixo é transformado em pequeno poste de sinalização para a boca. Os lábios com a idade tornam-se finos, mas idosos não aceitam mais essa evolução da natureza e fazem tanto preenchimento, que a população brasileira, com poder de consumo, tem uma característica em comum, que são os lábios botocudos, e não carnosos que era o sonho de consumo.

E os que cismam que estão com o aspecto de cansados pela bolsinha nos olhos? Há casos que a vaidade é tanta, que certos pacientes perdem tanta pele das pálpebras, que passam a dormir com a fenda palpebral aberta.

A vaidade leva à idolatria do esconder.

Os homens não estão fora desse comportamento de verdadeira idolatria da eterna juventude.

As novas gerações não foram marcadas pelas sábias letras dos poetas, escritores, jornalistas, sábios, autodidatas, imortalizadas nas marchinhas carnavalescas.

Estamos observando a extinção dos carecas entre os homens das classes sociais mais abonadas economicamente. É impressionante o número de homens que fazem a cirurgia de implante de cabelo. Segundo estatísticas, a maior procura e os melhores clientes são os políticos, que fazem esse tratamento, que não é barato, por conta da viúva.

Aposto que essa gente nunca ouviu a marchinha de carnaval da década de quarenta e que dizia: “são dos carecas que elas gostam mais, porque eles são os maiorais.”

O homem público, especialmente, não tem o direito de sonegar as informações sobre a sua saúde.

Não sou hipocondríaco, mas para parecer e me sentir saudável, tomo quinze comprimidos de remédios por dia. Nenhum para embelezamento, e sim, para controlar a minha saúde.

Uma revista de circulação nacional deu um furo de reportagem dizendo que a nossa presidente toma vinte e oito comprimidos diários e o nome das doenças.

Não seria melhor se ela contasse ao povo brasileiro sobre a sua saúde?

Esconder, para que?

Gabriel Novis Neves

03-11-2011

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