sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Gramática

Falamos oficialmente uma língua e possuímos uma gramática – isso na teoria. Na prática, só em nosso Estado, temos trinta e seis nações indígenas com idiomas próprios.

Quanto à gramática, além da oficial, possuímos inúmeras outras, como a nova do MEC, que está dando muito o que falar. Em Cuiabá falamos o português-cuiabanês, a do povo simples e a do Oráculo do Porto.

Quem não está iniciado no linguajar do pobre Marquês, fica voando. Ele criou essa irônica e humorada forma de comunicação, que poucos traduzem.

Açu, no seu linguajar, é grande. Quem pergunta, é consulente. O seu site é "good", porque está ancorado nos Estados Unidos. A sua logomarca é “saite que ninguém lê”.

Foi uma homenagem ao político que vaticinou, quando da criação desse moderno jornal eletrônico, que até capa tem - que seria um site que ninguém leria.

Pelo número de processos que acumula no seu longo currículo, provou que, além de ser lido, incomoda, por não ser compreendido no seu linguajar.

Temos também algumas gramáticas interessantes e peculiares: a dos novos ricos, a dos que vivem à margem da lei, a do futebol, etc. etc. - e a mais rica de todas, a gramática da política.

Assisti a um debate pela televisão com personalidades Vips do nosso mundo político, e ouvi esta pérola da famosa jornalista Cristina Lobo: “A presidente gastou muito do seu capital político com a crise da consultoria".

Beleza de grupo fraseológico, como dizia o meu professor de gramática.

A jornalista quis dizer que a presidente, mantendo o capitão do seu time em campo, o médico de Ribeirão Preto, estava procurando a derrota.

Essas substituições devem ser feitas sem ouvir a comissão técnica, ainda mais quando o chefe está no exterior, proferindo conferências em potências amigas da África e América Central. Perda de capital político significa perda de prestígio, de popularidade, de aceitação popular. Beira a perda do poder.

A corrupção, desonestidade, falcatruas, venda de informações privilegiadas, falta de ética, não é um linguajar brasileiro. A diferença que existe entre nós e outros países, no linguajar, é a impunidade.

O super-poderoso diretor do FMI, e candidato a candidato à presidência da França, foi preso, perdeu um dos cargos mais cobiçados do mundo, e desistiu da candidatura ao governo da França, por ter assediado sexualmente a camareira do seu hotel. Mas isto aconteceu nos Estados Unidos da América do Norte.

Aqui, humilde caseiro teve a sua raquítica conta bancária invadida por ordem do chefe do diretor do banco porque revelou nomes de alguns participantes de reuniões em uma casa do Lago em Brasília.

O punido aqui foi o caseiro. Lá, não foi a camareira.

Dora Kramer, outra respeitada jornalista, pela sua gramática, interpreta o escândalo do enriquecimento do ex-chefe da Casa Civil como “Um desgaste do governo, a erosão de sua credibilidade pessoal, e o constrangimento".

A punição creio que veio, não por motivos éticos, morais ou judiciais, mas pelos números das pesquisas que indicam uma queda vertical na credibilidade da presidente.

É a gramática das ruas, que expressa o seu descontentamento, por números captados pelos institutos de pesquisas.

Gabriel Novis Neves

25-09-2011

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