quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Centro Histórico de Cuiabá

Aproveitei o chuvisco da madrugada em uma manhã sem movimento, para visitar com calma o nosso Centro Histórico.

Notícias oficiais falavam de recursos financeiros e de obras em andamento para revitalizar o nosso patrimônio histórico - que é o centro de Cuiabá, onde tudo começou.

A realidade que encontrei e documentei com fotos, é bem diferente da propaganda do governo. O abandono da região tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional é criminoso e desrespeitoso para com essa gente simples e pacata, responsável por essa civilização.

Os velhos casarões da minha infância estão em ruínas e muitos já desabaram pelo desinteresse de várias gerações de cuiabanos, mestres em valorizar pechisbeque.

A Rua 7 de Setembro se parece mais com as ruínas de cidades destruídas pelas guerras. As casas históricas estão quase todas abandonadas, servindo de esconderijo aos usuários de drogas, abundantes na região.

Que lição nós passaremos às novas gerações e aos milhares de turistas que nos visitarão por ocasião da Copa? Cidade sem passado é cidade sem futuro.

Recentemente, a Rússia investiu milhões de euros na recuperação do seu principal teatro, destruído pelas guerras. Os americanos encontraram nos destroços das Torres Gêmeas apenas uma pequena árvore. Foi uma vida que se salvou do terrorismo. Essa pequena árvore, que representa a vida, após tratamento especial, hoje faz parte do museu da vida.

Estiquei a visita até a Praça da Mandioca, berço dos poetas, escritores, boêmios e pensadores. Que calamidade! Em vez da vida, representada pela pequena árvore americana, encontrei uma enorme placa identificando o local - mágico para a minha geração - com citações em português, inglês e italiano. Ao seu redor, ruínas e abandono. Nem a feirinha da dona Bembem eu encontrei.

Cuiabá é vítima da sua genética. Cidade hospitaleira, sempre abrigou o forasteiro como filho. Nunca fez mal a ninguém e poucos fizeram algo de bom por ela.

O Centro da cidade onde nasci e tenho o meu umbigo enterrado, simplesmente morreu - vítima do abandono pragmático daqueles que deveriam lhe proteger.

O que fizeram das ruas de Baixo, do Meio, de Cima e do Campo? Mercados, no sentido mais abrangente da palavra.

Na Praça Alencastro, de saudosas tradições, encubadeiras de muitos namoros finalizados com casamentos cheios de rebentos, símbolo mais autêntico de vida, hoje é ponto de comércio para acabar com vidas humanas. E o preço é a combinar.

E ainda dizem que estão revitalizando o nosso Centro Histórico? Nos últimos dez anos a única obra de vulto feita por lá, foi a caiação do Palácio da Instrução e a iluminação natalina do prédio, em uma imitação barata do que o finado Banco Bamerindus fazia em Curitiba.

Não quero voltar ao passado, pois o meu futuro não é incerto. Do nosso Centro Histórico sem futuro, o melhor é voltar ao passado.

Mas, que dói para um cuiabano inconformado, dói. Não voltarei tão cedo ao nosso Centro Histórico, surrupiado dos cuiabanos de boa fé. Suporto o sofrimento quando é por graça de Deus, mas por graça dos homens, não.

Gabriel Novis Neves

15-09-2011

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