sexta-feira, 9 de setembro de 2011

AGENDA FECHADA

Ficou usual o paciente de plano de saúde ligar para um consultório médico a fim de marcar uma consulta e ouvir da secretária que a agenda do doutor está fechada.

Agenda fechada significa a impossibilidade de, em curto prazo, o paciente ser atendido.

Este artifício traduz o estado de proletarização que vive o médico, chamado no passado de profissional liberal.

A minoria dos médicos hoje se dedica às atividades assistenciais em consultórios.

Preferem vários empregos mal remunerados onde a quantidade compensa.

Está longe o tempo da qualidade nos atendimentos médicos. Hoje o médico tem que produzir para sobreviver, no ritmo de uma fábrica.

As exceções, nesse quadro de terror em que se encontra a medicina, estão nas especialidades ligadas ao embelezamento humano.

O mercado não aceita mais o médico, e sim o especialista nas áreas em que ninguém perece por falta de atendimento.

Nunca na história da medicina foi relatado um caso de óbito motivado por um discreto pé de galinha imperceptível ao mais cruel observador. Mas, há casos de insucessos por acidentes nesses desnecessários procedimentos.

As clínicas das áreas básicas do conhecimento médico - clínica médica e cirurgia geral, pediatria, ginecologia e obstetrícia -, estão entre as chamadas especialidades em extinção.

Sem esses profissionais é impossível algum programa de saúde no Brasil ser eficiente, a não ser no papel.

Entre os inúmeros fatores para o fracasso do SUS está exatamente na falta desses profissionais.

Os PSF (Programas Saúde da Família) fracassaram, principalmente por falta de médicos com conhecimentos básicos naquelas áreas.

Vivemos aquela história chata da mentira aceitável, com enormes prejuízos causados à população mais pobre.

O governo mente dizendo que o Brasil tem o melhor plano de saúde do mundo, os médicos especialistas aceitam fazer o papel teatral de generalista com hora marcada, e a população não tem para quem reclamar.

E a agenda está sempre fechada aos clientes que garimpam uma consulta pelo plano de saúde.

O SUS possui uma Central de Regulação para consultas e internações, que só funciona quando acionada pela justiça. Para abri-la o governo editou uma norma, claro que não será cumprida, baseada na história do sofá do português.

Diante da denúncia de traição da sua esposa, o lusitano tomou as suas providências imediatas: jogou fora o sofá.

O governo encontrou a solução para se livrar do seu sofá, traindo os brasileiros que têm assegurado na Constituição Federal o direito à saúde, oferecendo aos médicos recém-formados - e que fizeram empréstimos oficiais para estudar -, vantagens no pagamento das suas dívidas, indo para o interior.

Sem estrutura mínima, que a maioria dos municípios brasileiros oferece, o ônus do sofá será da população pobre, mais uma vez enganada.

A agenda continuará fechada.


Gabriel Novis Neves

31-08-2011

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