sábado, 10 de setembro de 2011

Obras

Não pensem que eu vou falar acerca das obras para a Copa. Se bem que, na verdade, a gente não está vendo muitas por aí não.

Tempos atrás fiz uma grande obra de reforma no meu apartamento. A reforma ficou ótima, mas trouxe-me tanta chateação e desconforto, que jurei que nunca mais iria reformar nada aqui em casa.

Mas, tive que quebrar meu juramento. Em nome do aconchego, quebrei meu juramento.

Mandei colocar uma pequena cortina de vidro na sacada do meu apartamento, e fiz o pagamento antecipado para usufruir da promoção de uma firma nova em Cuiabá.

Mesmo com o empenho dos empresários, a encomenda não será entregue antes de quarenta dias. Depois, mais uma semana para cuidar do teto da sacadinha: gesso e pintura. A retirada das duas enormes portas de vidro, que a separam da parte “nobre” do apartamento, é que vai trazer maiores transtornos. Por fim, a colocação do piso. Mas, tudo bem. Estou ciente dos transtornos e vacinado contra reformas.

A motivação para tamanha empreitada foi a de reunir as crianças nos almoços de sábado num único ambiente. Família parece sanfona. Começa com um casal. Aos poucos a casa vai se enchendo de filhos. Depois há o fenômeno de esvaziamento da casa, com os filhos saindo e constituindo novas famílias. O ninho fica vazio. Aí, os netos vão chegando e a casa vai se enchendo de novo.

Os netos crescem e arrumam namorados. E os namorados começam a frequentar, também, a casa do vô.

A casa voltou a ficar cheia, alegre e divertida. No sábado acontece a reunião de todos: filhos, noras, genro, neto, netas e namorados das netas. É o almoço semanal da família.

Aprecio muito este momento, apesar de ser somente uma vez por semana. Mas, alguma coisa me incomodava. Custei para saber o que era.

Até que um dia, fui à casa de uma vizinha que está reformando seu apartamento – aqui no prédio mesmo, e igual ao meu. Fiquei encantado com a solução que o arquiteto encontrou para ampliar a sala de refeições: se utilizou da sacadinha.

A sacadinha, aqui em casa, não era utilizada para nada – somente como fumódromo para visitas. Então, não tive dúvidas: imitei a reforma da minha vizinha.

Com a reforma, parte das crianças não vai mais precisar almoçar na copa, que fica isolada da sala de refeições. E era isso que me incomodava. A família reunida, e ao mesmo tempo, separada. E separada na hora mais agradável do dia: a hora da refeição. Hora em que surgem os papos mais engraçados, brincadeiras, e, por que não dizer? - algum pequeno bate-boca – como nas melhores famílias.

Conto nos dedos os dias que faltam para reunir todos comigo, num mesmo ambiente. Já avisei para as ovelhas desgarradas, que elas estão com seus dias contados.

Não vejo o momento em que eu poderei clicar, com a minha poderosa máquina, este encontro familiar – sem faltar ninguém no enquadramento. Para mim é uma expectativa muito grande – como alguém que aguarda uma transfusão de células-tronco.

Minha obra ficará pronta no prazo combinado, e as obras da Copa?


Gabriel Novis Neves

25-08-2011

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