quinta-feira, 15 de setembro de 2011

GOSTAR DE CUIABÁ

Alguns acham que gostar de uma cidade, é jogar as suas sujeiras para debaixo do tapete. Nada de mal entender assim.

Não sou obrigado a aceitar perfumarias e me calar de joelhos e de mãos postas, para não desagradar os moradores provisórios do poder.

É importante o contraditório, para corrigir as nossas falhas, pois não existe o homem sem falhas, embora, alguns acreditem nisso.

Temos apenas a obrigação social de, pelo menos, tentar acertar. Acobertar desacertos não é do meu feitio.

Estou lendo o editorial do jornal A Gazeta de 27 de agosto de 2011. Não dá para esquecer um fato relevante acontecido, para não prejudicar ainda mais a imagem da cidade onde nasci.

A matéria do editorial deveria ser debatida por todos aqueles que realmente amam este Estado e a velha e maltratada Cuiabá.

Mato Grosso possui uma população de aproximadamente 3 milhões de habitantes. Desses, 833 mil são analfabetos absolutos; pessoas que não aprenderam a ler e escrever; não porque não quiseram, mas não tiveram a oportunidade de ir a uma escola. A educação, infelizmente, ainda é um privilégio para poucos no país.

Há lugares no Estado que não possuem uma sala de aula! Das que estão funcionando, muitas recebem os alunos de forma precária; outras foram demolidas, como a tradicional Escola Estadual José Magno, na área mais valorizada de Cuiabá.

A demolição dessa escola foi feita em 2009 pelo governo do Estado para construir uma nova modelo Lucas do Rio Verde.

Única demolição realizada a toque de caixa e iniciada de imediata a construção no local demolido, foi a do Verdão implodido.

A escola demolida possuía 1.500 alunos na ocasião. Hoje funciona irregularmente em um prédio alugado ao preço de R$ 12 mil ao mês, no bairro Duque de Caxias, com apenas 550 alunos.

A Escola Municipal Rita Caldas Castrillon, teve 276 notebooks e 8 computadores roubados pelos bandidos que usaram até uma caminhonete importada para levarem os equipamentos.

É enorme o número de alunos que concluem o ensino fundamental, médio, superior e até pós-graduação com o certificado de analfabetos funcionais.

Os que amam Cuiabá têm que esconder essa situação de miserabilidade governamental, ou denunciar?

Fico com as vítimas que não têm como falar. Por isso não amo Cuiabá?

O meu umbigo e DNA podem ser facilmente encontrados na minha cidade e Estado.

Não tenho o mínimo entusiasmo para discutir as “obras” da Copa, que não saíram do papel, ou tiveram os seus recursos cortados e que irão “desenvolver” esta cidade, até hoje sem saneamento básico.

Utilizo esse linguajar que não é comum falar aos vaidosos e poderosos, para entenderem que precisam pensar de uma maneira mais holística, apoiando educação, saúde, segurança, transporte e qualidade de vida da nossa gente.

Não consigo me alegrar, vivendo em um Estado tão carente em programas sociais, quando o governo está endividando este Estado, com bijuterias para divertir gente rica.

Pobre não tem dinheiro para comprar um ingresso para um jogo da FIFA, mas irá pagar os juros bancários para a festa.

Nem irei falar sobre a violência na Cuiabá atual, para não prejudicar a sua imagem de cidade hospitaleira.

Não incentivarei os turistas a visitar os shoppings da cidade, para não quebrar a nossa marca de “cidade linda e agarrativa,” debaixo de chuvas de tiros de armas pesadas, com corpos estendidos pelo chão.

Tenho motivos para amar Cuiabá, pelo que ela representa para mim e não para agradar pessoas.

Amo Cuiabá por ser uma cidadezinha do interior tão pura e inspiradora, legado maior que gerações passadas nos deixaram.

Gabriel Novis Neves

30-08-2011

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