quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Era assim

A atividade da UFMT na frente pioneira, acompanhando de perto as batalhas do 9º Batalhão de Engenharia de Construção que constrói, num recorde de produtividade, a grande estrada de 1.775 km que cortará a Transamazônica, marcou o início da implantação da Universidade da Selva.

Uma Universidade amazônica não pode adotar o modelo organizacional aprovado nas zonas polarizadas do centro-sul. A Universidade aqui deve, agilmente, converter-se num pólo planejador e num claro visor para a realidade regional.

A Universidade Federal de Mato Grosso optou pela ativação coordenada de seu sistema de Pesquisas, através de programas de Pesquisa Aplicada em acordo com os programas de outros órgãos de planejamento e execução das políticas de desenvolvimento nacional, estadual e municipal, acima do paralelo 16, no Estado.

Porque ninguém, como admite Ceremecê, o grande capitão dos Xavantes, ensina o que não sabe – muito menos, ao nível de uma Universidade. O campus está localizado no maior vazio cartográfico do mundo contemporâneo, obrigando os pilotos a se guiar visualmente pelos acidentes terrestres. E as questões irrespondíveis sobre a área são as que o professor deve responder ao aluno que precisa conhecer melhor o meio em que vive para melhorá-lo. Isso nos obrigou a inverter os termos do binômio Ensino e Pesquisa, consagrado nos textos legais, para criar um movimento em profundidade (Pesquisa), imediatamente conversível em movimento em expansão (Ensino). A partir deste foco de realismo, dar sentido objetivo à produção da Ciência, da Tecnologia e do capital humano necessários ao desenvolvimento regional.

Adotando esta política, cremos estar contribuindo para estruturar melhor o mercado de trabalho, impedindo a futura evasão de alunos de cursos e a evasão de diplomados da região. Paralelamente, estamos procurando assegurar ao Governo, e à empresa privada, não somente a mão-de-obra altamente qualificada, com perfis profissiográficos adequados, mas um novo tipo de colonizador para a Amazônia. Diferente daquele que pisou de início em terras brasileiras e que, durante séculos, agindo de maneira antieconômica e anti-humana, terminou por destruir 30% das nossas florestas tropicais. Desapareceu também com a maioria dos povos indígenas que constituem a nossa única fonte não européia de conhecimentos sobre o homem e a natureza da America do Sul.

Claro que, à primeira vista, parecerá uma Universidade de índio, a nossa. Esperamos que esta impressão inicial não se dissipe, mas, ao contrário, se confirme – porque temos tentado, diligentemente, sê-lo.

A presença de comunidades tribais nas imediações de antenas de microondas de 700 m2, o garimpo intenso de conhecimentos diretores do desenvolvimento econômico regional, o envolvimento contínuo pelo meio ambiente selvático, eis alguns traços essenciais de um novo tipo de Universidade pública: a Universidade da Selva. Funcionando na frente pioneira, apesar de ainda em fase de implantação física - é a resposta momentaneamente possível para o desafio da distância e do conhecimento.

Trechos do pronunciamento do 1º Reitor da Universidade Federal de Mato Grosso em Brasília, no dia 17 de agosto de 1972, por ocasião do I Encontro de Reitores das Universidades Públicas.


Gabriel Novis Neves

07-12-2010

Um comentário:

  1. Tio, divulguei seu blog no meu twitter e facebook! Espero que os acessos se multipliquem!! Orgulho de ser GNN!!

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