sábado, 26 de junho de 2010

A VIDA REAL

Como dizia o Nelson Rodrigues, “há cinco mil anos estava escrito” que no século XXI eu iria morar no bairro e na quadra de metro quadrado mais caro de Cuiabá. Este Pobre Marquês, (direitos autorais da expressão para o Vila), tem uma vizinhança pra lá de importante, composta por altas personalidades da política nacional, representantes graduados das administrações públicas estaduais, municipais, federais e empresários bem sucedidos.

Médico é o profissional que melhor sabe administrar o tempo. Consegue no mesmo horário trabalhar em vários lugares com eficiência. Mas o médico é um péssimo administrador das suas finanças. As exceções existem, para confirmar a regra. Lembro-me de apenas dois médicos que sabiam cuidar de dinheiro: na República Velha, o médico homeopata Joaquim Murtinho, e na recente, o médico sanitarista Antonio Palocci. Ambos foram ministros da Fazenda do Brasil, e pasmem, com bons desempenhos.

O Brasil teve muitos planos econômicos fracassados, até que um sociólogo da USP criou o Plano Real que é “imexível”. Houve uma época em que os leigos, diante do confisco da poupança, foram aconselhados pelos entendidos em economia para investirem em apartamento. A receita era simples: comprar um apartamento no lançamento e vender na conclusão da obra. O lucro era certo. Tentei a experiência com um apartamento pequeno, e fui bem sucedido. Repeti a dose agora, comprando dois pequenos, resultado bom, apesar do lucro pequeno. Resolvi então comprar uma cobertura e faturar alto. Mas, os planos econômicos mudaram, e não consegui fazer negócio nenhum. Descobri que para a comercialização, os pequenos são os mais rentáveis. Fui obrigado então a vender o meu casarão do Porto para ficar com a gaiola.

Muito bem. Fiz esse preâmbulo para contar a seguinte história. A minha ajudante doméstica deixa o trabalho às 16 h. O ponto do ônibus fica praticamente em frente a uma clínica de grande movimento e de um prédio onde moram várias autoridades - a uma distância de menos de cinqüenta metros do meu edifício. Foi assaltada por um menino dependente de droga, conhecido como delinqüente por todos os porteiros deste pedaço e que nas horas vagas “trabalha como flanelinha” nas proximidades dos restaurantes mais grã-finos da cidade.

E ainda tem gente que pensa que a violência é um problema pontual, das áreas mais pobres da cidade. O crime em Cuiabá é metastático e já atingiu todos os bairros. Esse é o retrato da vida real na cidade do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

Orai por nós Senhor!

Gabriel Novis Neves
11/06/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.