quinta-feira, 3 de junho de 2010

Armadilha

Cresci na Rua do Campo, quase vizinho de Estevão de Mendonça. Freqüentava a sua casa e naquela época não sabia por que ele guardava tantos jornais, cartas e documentos. Era tanto papel velho, que chegava a prejudicar a minha respiração. Ao escutar-me tossindo, sempre dizia que, para agüentar todo aquele mofo, só fumando cigarro de palha, com fumo bom. Estevão de Mendonça, quando acordado, estava sempre com o seu cigarro de palha entre os dedos amarelados. A sua produção pulmonar era abundante e impressionava aqueles que não o conheciam. Não me aconselhou o uso de cigarros, claro, mas sim uma colher de mel antes de penetrar na sua biblioteca – casa. Foi ali que cunhou a célebre frase: “Morre para sempre quem morre em Cuiabá.”

Há vinte anos moro na Rua Estevão de Mendonça. Todos os dias eu pronuncio o seu nome várias vezes, e a frase famosa, não sai dos meus pensamentos – “Morre para sempre quem morre em Cuiabá.”

Lembrei-me da frase imortalizada para a injustiça que praticamos com Rondon. Dia 5 de Maio foi aniversário de nascimento de Rondon, para os amigos Cândido Mariano. O governo brasileiro para homenagear o militar sertanista, e um dos cinco maiores andarilhos do mundo, instituiu esse dia – 5 de Maio, como o Dia das Comunicações. Rondon entre outros trabalhos realizados implantou a comunicação telegráfica entre Cuiabá e Manaus, com um detalhe importante - a pé. Ia e voltava pelas picadas abertas, fazendo reparos na rede.

Pois bem. Este ano não escrevi nada sobre o nosso herói de Mimoso, seu local de nascimento. Com exceção de uma televisão, cujo responsável pelo jornalismo é o pai do menino número quinze mil aparado por mim, não se falou do desbravador amazônico. Fiquei sabendo inclusive que é também comemorado o Dia da Parteira nesse dia! E haja tempo na televisão para a matéria! Tenho uma admiração especial pelas parteiras, pois sou parteiro. Inclusive escrevi um artigo, e publiquei, sobre as atividades de uma parteira muito antiga de Várzea-Grande, tendo o carinho de mandar entregar o jornal que publicou, em suas mãos.

Passar despercebido pela mídia é até compreensível, mas não deixa de ser inaceitável. Mas e a nossa UFMT, cujo primeiro projeto cultural implantado foi o Museu Rondon? E o busto de Rondon, inaugurado na entrada do campus universitário no dia do seu aniversário, e patrocinado pelos Amigos de Rondon? Isto sim é incompreensível e inaceitável. Não sei nem se esse cinco de Maio foi lembrado em Rondonópolis. Com certeza não.

O governo do estado muito preocupado com os recentes e vergonhosos acontecimentos, nem uma nota em jornal se dignou a fazer. Entretanto os anúncios de ficção eleitoral eram incontáveis. A armadilha deu certo. Patrolaram o Rondon da nossa história.

Gabriel Novis Neves
06/05/
2010

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