segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sonhos

Para a criança tudo é sonho, imaginação e brincadeira. É o período em que a fantasia reina absoluta. Os contos de fada - onde o bem sempre vence o mal, fazem parte do brincar. É por excelência, o mais alegre e descontraído período da nossa vida. A criança, na sua pureza de sentimentos, desconhece os valores dos adultos: dinheiro, orgulho, ambição, competição, vaidade e tantos outros. O sinal mais forte de que já chegamos à fase adulta é quando paramos de fantasiar e brincar.

Na minha transição de criança para adulto, sonhei em ser médico. Nasci e fui educado em uma pequena cidade do interior do Brasil – Cuiabá. Conhecia todos os médicos da minha cidade, que em atividade, não chegavam a vinte. Observava o ambiente em que viviam e como exerciam a sua profissão: com dedicação, humanidade, desprendimento, e acima de tudo, solidariedade. Esses foram os ingredientes que me impulsionaram para a escolha de ser médico. Infelizmente os tempos agora são outros. Estou completando neste ano as minhas bodas de ouro como médico. Participei da transformação da medicina humanística e solidária, para a medicina tecnológica e de disputa de mercado. Aquele grupo pequeno e unido da minha infância faz parte da história da Medicina. Hoje temos grupos de médicos em disputas internas e externas pelo mercado. Nesta verdadeira guerra desaparecem a ética e a solidariedade, e impera a desunião. O motivo, na maioria das vezes, é oriundo de interesses pessoais.

Não queria abordar este tema, mas acho que devemos refletir sobre a união da classe médica, não no aspecto do saudosismo, mas visando resgatar os antigos valores da nossa profissão. Fui pesquisar a fonte de inspiração para um assunto tão polêmico. Acho que descobri! Anda lendo críticos, letristas da música popular brasileira e poetas. Só quem leu que “o sonho é o domingo do pensamento” coloca em discussão um tema politicamente incorreto para muitos. Os médicos devem voltar a ter sonhos como as crianças, e o tratamento é a união da classe.


Vou contrariar Luis de Camões no seu secular alerta: “coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”. Mesmo assim, conclamo os colegas a se lembrarem de que o “desejo de ser curado, faz parte da cura”.

Gabriel Novis Neves
17/05/2010


* Publicado simultaneamente no http://www.gnn-cultura.blogspot.com/

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