terça-feira, 8 de junho de 2010

Metralhadora verbal

Em recente artigo falei que crocodilo não chora, e expliquei o mecanismo das suas lágrimas – as famosas “lágrimas de crocodilo”, aquelas que rolam pelo rosto, mas o coração nem sabe. Iguaiszinhas aquelas que presenciamos dias atrás nos rostos de algumas autoridades que deixavam o poder, assim como pelas que entravam. Foi uma choradeira nacional! Entretanto, não basta chorar: o “chorador” tem que demonstrar emoção.

Outro dia assisti pela televisão um choro, ou melhor, assisti a um arremedo de choro, as tais lágrimas de crocodilo. Desta feita o caso ocorreu em Brasília. Não me contive – fui às gargalhadas. Difícil acreditar na sinceridade daquele choro. A pessoa que chorava, foi preparada para não chorar - acho que até mesmo diante da morte. A idade pode produzir degeneração cerebral, comprometendo assim a parte afetiva levando, às vezes, as pessoas à labilidade emocional. Assim sendo...

Hoje ouvi pelo rádio uma entrevista super interessante com uma autoridade de Cuiabá. O que me chamou a atenção na entrevista foi a velocidade com que essa autoridade respondia as perguntas do jornalista. Em poucos minutos, o tempo exato do programa, ela conseguiu resolver todos os problemas centenários de Cuiabá. Tenho a impressão que tinha um chip implantado em seu cérebro. Mal o jornalista terminava a pergunta e lá vinha a resposta na ponta da língua. E, de tão pronta, as palavras saíam tal qual uma rajada de metralhadora. E quanta eficiência! E ainda se colocou à disposição de todos para resolver qualquer problema. Tudo enganação! As palavras fluíam sem a mínima emoção. Se eu por acaso, um dia, precisar de tais serviços, agradecerei comovido, mas, para não me aborrecer, passarei bem longe “daquilo”. Tudo o que não foi realizado em quase uma década, será realizado “semana que vem”. Milagres do ano eleitoral!

Toda autoridade que vai à Brasília consegue milhões de reais e resolvem, como num passe de mágica, os problemas pendentes na agenda de trabalho. Só para refrescar a memória: o novo Hospital Universitário da estrada de Santo Antônio está quase pronto; os recursos conseguidos para a conclusão do Hospital de Várzea-Grande permitiram o seu funcionamento desafogando Cuiabá; o velho Hospital Universitário Julio Muller (HUJM) está funcionando a todo o vapor, pois os nossos representantes em Brasília, não deixaram cortar as horas extras dos seus funcionários e professores. E por aí segue a fantasia que querem nos vender de um falso prestígio. Prestígio, na verdade, tem os trabalhadores de Mato Grosso que fazem com honestidade o seu trabalho, e pagando escorchantes impostos mantém, a duras penas, o desenvolvimento deste estado - recebendo muito pouco do governo como contrapartida. Não temos educação, saúde, segurança, infra - estrutura e políticas sociais. É um perigo a metralhadora verbal!

“As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades” –
Millôr Fernandes

Gabriel Novis Neves
09/04/2010

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