sexta-feira, 18 de junho de 2010

HISTÓRIAS DE ELEIÇÕES

Na noite de 29/10/1945, José Linhares, então Presidente do Supremo Tribunal Federal, estava com a sua família em uma festa, quando foi chamado ao Ministério da Guerra. Sem desconfiar do motivo, em poucos minutos era recebido pelo General Góis Monteiro. Ficou então sabendo que seria empossado Presidente do Brasil às 14 horas do dia seguinte. O General alagoano esclareceu a José Linhares que Vargas tinha deixado o governo, dando por encerrada a Segunda República. Foi orientado que escolhesse os seus ministros, para um governo de 93 dias, de comum acordo com os dois candidatos principais – o General Dutra e o Brigadeiro Eduardo Gomes, e que apresentasse as indicações antes da posse para a aprovação dos dois candidatos.

Algumas horas depois o Presidente do Supremo aparece com a lista. Presentes à reunião, Dutra e o Brigadeiro. Ao ler os nomes escolhidos, o Brigadeiro balançou a cabeça afirmativamente concordando com todos os nomes. Dutra, porém não gostou nem um pouquinho. Era o próprio diretório da UDN, partido do Brigadeiro. Dutra era candidato do PSD. Ficou muito aborrecido e não concordou com a lista. Ainda mais que o seu colega do golpe de 1937 e 1945, o General Góis Monteiro, fiador da transição, não aceitava permanecer no Ministério da Guerra. A reunião terminou com a derrota do cuiabano Dutra. Este começa então um trabalho fantástico. Articulou para que nenhum general aceitasse o cargo de Ministro da Guerra. O primeiro da lista foi o general Canrobert. Diante da situação, permaneceu o amigo do Dutra no Ministério mais importante. Vargas auto exilou-se em São Borja, na sua fazenda do Rio Grande do Sul. Dutra não tinha carisma e iria perder as eleições. Precisava de uma palavra de apoio de Vargas, que permanecia mudo. Até que um líder paulista chamado Hugo Borghi, após inúmeras viagens a São Borja, consegue do ex-ditador a frase salvadora: “- Ele disse - vote em Dutra”. Vargas não gostava do Brigadeiro, e o derrotou duas vezes nas eleições presidenciais. O Brigadeiro deu o troco quando fundou a “República do Galeão”- para desmoralizar o Presidente em 1954, levando-o ao suicídio.

A frase “Ele disse” correu o Brasil, porém precisava de mais alguma coisa para o Dutra chegar à Presidência. Neste momento entra mais uma vez o Hugo Borghi. Ele manda confeccionar milhões de panfletos, e de teco-teco joga nas principais fábricas e indústrias, redutos de trabalhadores do Brasil. Foi o tiro de misericórdia na candidatura do Brigadeiro. O que dizia o panfleto? Apenas um fuxico, que até hoje ganha eleições: “O Brigadeiro é bonito, é solteiro e Não Quer Voto de Marmiteiro!” Dutra eleito com o “Ele Disse” e “Não quer voto de marmiteiro”, tomou posse como Presidente da República, no dia 31/01/1946 e instala a Terceira República que teve o seu final em 31/03/1964.

Na história das eleições, escritas pelos vencedores sempre existiram traições, mentiras, calúnias, difamações e dinheiro. Como bem diziam os antigos: sexo de criança e resultado de eleição só se sabe depois do acontecido. Hoje essa história vale como lembrança do passado. A ultrassonografia nos dá com precisão matemática o sexo das crianças. As pesquisas eleitorais, antes das convenções partidárias, indicam o vencedor do pleito. Só uma coisa não mudou: fofoca e dinheiro ganham eleições.

Gabriel Novis Neves
14/05/2010

Um comentário:

  1. Fofocas, mentiras e compra de votos. Quem se lembra do padre Pombo, do poeta Silva Freire? Estamos no século XXI e ainda não aprendemos a escolher. Hoje o que atemoriza é que até o erro ou acerto da escolha nós perdemos. A tão propalada reforma partidária não foi feita e assim a oportunidade dos bons oferecerem seus nomes ao escrutínio popular virou ilusão. Os "profissionais" da política não permitem que o novo surja, a não ser que seja galho da sua árvore genealógica ou de ligações nada republicanas.
    Figueiredo

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