Num canto esquecido da casa, um prego solitário marca o lugar de um quadro antigo.
A ausência da moldura transforma-se em reflexão sobre o tempo, as perdas e o valor daquilo que já não se vê, mas ainda se sente.
Tudo o que vemos e sentimos tem um valor — muitos só o descobrem ao apagar das luzes da existência.
Durante a juventude, estamos tão preocupados com o futuro que não percebemos um simples prego na parede.
Só o entendemos na velhice, quando o tempo da reflexão já passou e criamos, muitas vezes, falsos valores.
O prego na parede marca o lugar de um quadro antigo, abrigo de uma fotografia cujo personagem já foi tudo para nós.
Hoje, vivendo em outro plano, sentimos a ausência e revivemos a lembrança.
A juventude é um fio de luz que raramente valorizamos — e mais tarde nos traz dolorosas saudades.
Escrevo pensando naquele prego pregado na parede, que um dia emoldurava a minha juventude.
O tempo, impiedoso, retirou a moldura e deixou apenas o solitário prego.
Quantos lugares guardam pregos nas paredes, que um dia sustentaram molduras com personagens da nossa história?
Nem todos entenderam isso como uma homenagem — muitos viram apenas uma formalidade.
Deixei muitos pregos sem moldura nos cargos que ocupei, e não me arrependo das ausências nas galerias.
Falhei, talvez, com a história — mas nunca com meus princípios.
O prego isolado na parede faz parte das nossas memórias.
Em minha casa tenho vários quadros, todos ocupados — um convite à reflexão.
É uma forma elegante de revisitar o passado com leveza e carinho.
Um filme que não passa mais, mas que ainda carrega sonhos e esperanças.
Reviver o passado do quadro que esteve na parede nunca será como o original.
Com a idade, esquecemos detalhes — e são justamente esses os mais importantes.
Gabriel Novis Neves
02-11-2025
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