Confraternizações, congratulações, presentes e abraços.
Banquetes, ceias, missa do Galo, rojões —agora silenciosos — saudando o Ano Novo.
Dezembro é o mês em que as lembranças ganham volume e são tratadas como joias raras.
Mas, confesso, desiludi-me com essa falação de ‘melhor de tudo’.
A Universidade completa 55 anos de criação neste mês, e realmente tem o que celebrar.
Cada curso faz questão absoluta de festejar sua data de fundação.
E aí que mora o perigo: dezembro costuma despertar interpretações apressadas.
Há anos decidi não mais comparecer a certas solenidades que, nem sempre, dialogam com a justiça e a verdadeira história.
Quantos heróis autênticos são esquecidos quando a ideologia ultrapassa os muros da racionalidade, produzindo pequenas injustiças silenciosas.
Sou muito procurado para entrevistas e depoimentos — afinal, sou o primeiro reitor ainda vivo daquele tempo em que tudo acontecia.
E percebo sempre um esforço em destacar personagens que, na época, estavam muito distantes da realidade que vivíamos.
Mencionam nomes quase apagados, e às vezes, atribuem-lhes papéis maiores do que tiveram, sobretudo quando falamos de figuras que realmente influenciaram aqueles momentos decisivos.
Talvez seja algo próprio deste mês.
Já considero cansativas essas entrevistas e homenagens que surgem apressadas no final do ano.
A maior homenagem que se presta a um homem público é cuidar do seu legado.
Ele sabe que o trabalho iniciado não terá fim.
Eu apenas estive presente no começo — na semente plantada com tanta esperança pela nossa cuiabania.
Outros têm o dever de acompanhar a evolução dos conhecimentos e devolvê-los à sociedade.
A ciência avança depressa.
O que era novidade quando me formei em Medicina, em 1960, virou história — e história precisa ser repassada com cuidado, sem invenções e sem vaidades.
Essas preocupações sempre retornam em dezembro, talvez porque o mês nos obriga a revisitar balanços pessoais e coletivos.
Enquanto isso, as comemorações seguem firmes, ocupando todos os segmentos da sociedade.
E o nascimento de Cristo e a chegada do Ano Novo... quantas vezes deixamos de lembrá-los, distraídos por um bom vinho.
Gabriel Novis Neves
24-11-2025
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