quinta-feira, 20 de novembro de 2025

LUZES QUE SE APAGAVAM


Havia um instante mágico, quase sagrado, quando as luzes do cinema começavam a se apagar.

 

O burburinho cessava, os cochichos se calavam e, no escuro, o coração batia mais forte.

 

Era o sinal de que algo ia começar — uma aventura, um romance e um mundo inteiro que cabia naquela tela iluminada.

 

Lembro-me bem: o cheiro do carpete, o estalar das poltronas de madeira, o brilho das lanterninhas guiando os retardatários até seus lugares.

 

As luzes se apagavam devagar, como se o tempo também diminuísse o passo.

 

E, de repente, o silêncio.

 

Um silêncio cheio de expectativa, de sonhos que vinham de Hollywood e pousavam, por alguns minutos, em Cuiabá.

 

As crianças se ajeitavam nas poltronas, os casais se davam as mãos e os vendedores de balas faziam sua última corrida pelos corredores.

 

A projeção começava, e todos éramos transportados para outro mundo.

 

O Cine Teatro, o Bandeirantes, o Tropical, o São Luiz — cada sala tinha seu cheiro, sua alma e sua plateia fiel.

 

As luzes que se apagavam não apenas anunciavam o início do filme, mas o começo de uma emoção compartilhada.

 

Hoje, nos shoppings modernos, o escuro continua o mesmo, mas o encanto é outro.

 

Falta o ruído das bobinas, o chiado do projetor e o murmúrio de espanto na hora do beijo final.

 

Fecho os olhos e ainda vejo as luzes se apagando devagar, como se anunciassem o sonho que estava por vir.

 

Era o momento em que a realidade se recolhia — e o menino que eu fui sentado na poltrona do cinema, acreditava que tudo era possível.

 

Gabriel Novis Neves

Cuiabá, 11 de novembro de 2025



Cine Parisien






Luiz Montanha projetou o filme "A Noiva", na inauguração do Cine Teatro Cuiabá, na década de 1940.

FOTOGRAFIA
 DO ACERVO DO HISTORIADOR FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA









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