terça-feira, 11 de novembro de 2025

A CHUVA QUE NÃO CHEGOU


O céu se armou, o vento mudou, os meninos correram com as roupas no varal — mas a chuva não veio.

 

Ficou apenas o cheiro de esperança molhada.

 

Aqui onde moro, esse capricho da natureza tem se repetido com frequência.

 

Raios, trovões, ventos fortes quebrando vasos do jardim e, no final, apenas uma leve garoa — e a esperança do cheiro da terra molhada e dos quintais forrados de mangas maduras.

 

É tempo de manga, e eu tenho aproveitado para matar as saudades da juventude, quando subia no pé para saboreá-la no galho mais alto, para desespero de minha mãe.

 

Leio nos jornais que o desgelo da Groenlândia continua a todo o vapor e que, até o final deste século, talvez não exista mais.  

 

Será que essa hesitação do céu em chover já é sinal do desgelo?

 

No Sul do Brasil, vendavais, temporais, enchentes, tufões, furacões — e muita chuva destruindo cidades.

 

O Brasil é um país-continente, sujeito a essas variações climatológicas.

 

Na minha juventude chovia mais em Cuiabá, e eu me divertia tomando banho de chuva e no córrego da Prainha.

 

Depois, garimpava pepitas de ouro, que guardava em vidrinhos de remédio para vender na ‘Casa Miraglia’, loja especializada em oficinas de ourives.

 

Cuiabá foi descoberta pela ambição dos paulistas de Sorocaba, que aqui chegaram em busca do nosso ouro.

 

Encontraram índios e o rio Cuiabá para ultrapassar — e como não sabiam nadar, fizeram amizade com os selvícolas que lhes forneceram peixes e os transportaram para o outro lado.

 

Os Paiaguás adentraram a mata e lhes mostraram as minas de ouro.

 

Os sorocabanos, em troca, mataram os donos da terra e levaram o nosso ouro.

 

Ainda há pouco tempo existiam garimpos na região do CPA.

 

Nasci em 1935, num pequeno lugarejo onde as ruas não eram calçadas, todos se conheciam pelo nome, e se tratavam como parentes.

 

Cidade cheia de cheiros — do pão assado na padaria da esquina e das mangas caídas dos quintais frondosos.

 

E sempre chovia, deixando no ar o perfume inesquecível da terra molhada.

 

Gabriel Novis Neves

10-11-2025




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.