O excelente escritor e biógrafo de personalidades, Ruy Castro, escreveu uma crônica que é um primor de humor, sabedoria e didatismo sobre palavras que estão morrendo em nosso idioma, substituídas por modismos da moda.
Há dias publiquei um texto sobre “palavras modernosas” em alta no momento atual e foquei — veja só — na palavra “tóxica”, que passou a significar tudo de ruim que acontece conosco.
Hoje, “tóxica” serve para definir pessoas, ambientes, relações e até emoções que causam danos emocionais ou psicológicos.
O imortal da Academia Brasileira de Letras enumera algumas palavras que parecem ter sido condenadas ao desuso.
Ninguém mais vive: agora se tem vivência.
Não existe mais simpatia: só empatia.
Ninguém mais diz “perto”: está sempre próximo de sair, de conseguir emprego, de viajar.
Ninguém coloca nada em lugar algum: apenas posiciona.
Ninguém termina: finaliza.
Ninguém tem resistência física ou emocional: é resiliente.
Ninguém completa ou enriquece um texto: atualiza.
Ninguém acrescenta algo ou alguém: adiciona.
Ninguém entrega ou manda alguma coisa: encaminha.
Se for endereço, então direciona.
E não há mais respeito ou consideração: tudo virou empatia.
A empatia abunda — e virou sinônimo até de simpatia, embora sejam coisas bem diferentes.
Falar das palavras que estão sendo expulsas da língua portuguesa é coisa desagradável, polêmica e difícil de abordar, diz Ruy Castro.
A não ser que você seja contumaz no uso do “eu foco”, “tu focas”, “ele foca”, “nós focamos” e “eles focam” — e resolva focar nelas.
E ainda dizem que somos um país que fala a mesma língua desde o seu descobrimento pelo português Pedro Álvares Cabral, em 1500!
Sem contar os 279 povos indígenas, falantes de mais de 150 línguas diferentes, além do nosso vasto linguajar regional, onde a mesma palavra pode ter significados completamente distintos.
Gabriel Novis Neves
27-11-2025
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