domingo, 16 de novembro de 2025

JANELAS ILUMINADAS NA MADRUGADA


Na Cuiabá de outrora uma luz acesa no dormitório despertava a curiosidade dos vizinhos e de quem passava pela rua.

 

Os insones mantinham a lâmpada do quarto acesa — uma atitude anormal para aquele tempo.

 

Não era comum ver uma lâmpada iluminando a madrugada: era sinal de que algo de ruim acontecia naquela casa

 

Os antigos controlavam a iluminação de seus lares. Mesmo quando não conseguiam dormir, permaneciam no escuro.

 

Um dormitório iluminado à noite logo fazia os vizinhos pensarem que algo não estava bem.

 

Meu avô tinha o hábito de tomar o seu guaranazinho ralado às quatro da manhã.

 

Para isso acendia uma lamparina sobre a mesinha ao lado da cama.

 

No período escolar minha mãe recorria ao mesmo recurso quando o gerador da cidade entrava em pane e precisávamos estudar ou revisar as lições.

 

Ela acreditava que, nas primeiras horas do dia, o aprendizado se tornava mais fácil.

 

Coisas de ‘decoreba’, tão comum no nosso ensino daquele tempo —até mesmo em matemática.

 

Para me ajudar nessa disciplina, meu pai contratava aulas particulares com o professor João Crisóstomo, filho do professor Agostinho de Figueiredo.

 

Ele lecionava em sua casa, na rua Nova, quase em frente ao antigo Hospital Sotrauma.

 

O pouco que ainda sei de matemática aprendi com ele, sem precisar acordar de madrugada para recordar lições.

 

Até hoje, uma luz acesa de madrugada em uma residência carrega a ideia de que há gente acordada — e raramente é um bom sinal.

 

Quando as crianças nasciam em casa, como eu e meus oito irmãos, todos na vizinhança sabiam que havia gente nova no mundo.

 

Esperavam o dia clarear para visitar o recém-nascido —e isso sempre dava certo.

 

Nos dias atuais, ninguém mais considera a insônia um mistério.

 

Tampouco uma lâmpada acesa desperta curiosidade.

 

Gabriel Novis Neves

12-09-2025







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