Na Cuiabá de outrora uma luz acesa no dormitório despertava a curiosidade dos vizinhos e de quem passava pela rua.
Os insones mantinham a lâmpada do quarto acesa — uma atitude anormal para aquele tempo.
Não era comum ver uma lâmpada iluminando a madrugada: era sinal de que algo de ruim acontecia naquela casa
Os antigos controlavam a iluminação de seus lares. Mesmo quando não conseguiam dormir, permaneciam no escuro.
Um dormitório iluminado à noite logo fazia os vizinhos pensarem que algo não estava bem.
Meu avô tinha o hábito de tomar o seu guaranazinho ralado às quatro da manhã.
Para isso acendia uma lamparina sobre a mesinha ao lado da cama.
No período escolar minha mãe recorria ao mesmo recurso quando o gerador da cidade entrava em pane e precisávamos estudar ou revisar as lições.
Ela acreditava que, nas primeiras horas do dia, o aprendizado se tornava mais fácil.
Coisas de ‘decoreba’, tão comum no nosso ensino daquele tempo —até mesmo em matemática.
Para me ajudar nessa disciplina, meu pai contratava aulas particulares com o professor João Crisóstomo, filho do professor Agostinho de Figueiredo.
Ele lecionava em sua casa, na rua Nova, quase em frente ao antigo Hospital Sotrauma.
O pouco que ainda sei de matemática aprendi com ele, sem precisar acordar de madrugada para recordar lições.
Até hoje, uma luz acesa de madrugada em uma residência carrega a ideia de que há gente acordada — e raramente é um bom sinal.
Quando as crianças nasciam em casa, como eu e meus oito irmãos, todos na vizinhança sabiam que havia gente nova no mundo.
Esperavam o dia clarear para visitar o recém-nascido —e isso sempre dava certo.
Nos dias atuais, ninguém mais considera a insônia um mistério.
Tampouco uma lâmpada acesa desperta curiosidade.
Gabriel Novis Neves
12-09-2025
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