Atrás da porta do quarto havia sempre um cabide improvisado, que guardava chapéus, casacos e até lembranças.
Cada peça pendurada parecia contar a rotina silenciosa de quem chegava cansado e deixava ali um pouco de si.
Hoje não há mais espaço para esses cabides improvisados.
Os cabideiros modernos são uma mão na roda para pendurar a roupa recém-usada, o boné, ou o guarda-chuva.
O da minha casa está no closet do meu dormitório.
Está sempre ocupado com a roupa que acabei de usar, bonés, gorros, cinturões de uso diário.
Na casa do meu avô o cabideiro ficava no hall de entrada, na dos meus pais no dormitório.
É uma peça simples e vertical de madeira ou metálica que serve para organizar e guardar roupas, chapéus, bolsas e guarda-chuvas —um móvel prático que, ao mesmo tempo, decora e dá estilo ao ambiente.
Há algo de nostálgico nos cabideiros e nas histórias que eles guardam, especialmente quando ficam nas partes íntimas das casas.
O da minha casa é cúmplice de segredos entre mim e ele.
Chego a conversar com ele nos momentos de extrema solidão.
É um amigo de confiança, porque não fala.
Se falasse, muitos segredos seriam revelados.
Como é curioso perceber que certas roupas lembram momentos e lugares vividos com emoção!
Camisas, calças, ternos, gravatas — cada peça ligada a uma lembrança, a um instante.
Abro as portas do guarda-roupa e um filme antigo começa a passar na minha memória.
Isso acontece com fatos ocorridos há oitenta anos ou um pouco mais.
Minha mulher subiu para o andar de cima há dezenove anos, e ainda hoje sinto emoção ao abrir o seu guarda-roupa.
Alguns objetos de uso frequente parecem conservar a presença dos donos — e isso é uma realidade para muitos.
Minha casa é um museu de lembranças.
Cada cantinho provoca em mim doces recordações e, ao mesmo tempo, uma saudade que dói.
Gabriel Novis Neves
12-10-2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.