sexta-feira, 21 de junho de 2024

MUNDO INFANTIL


Quando criança o tempo custava muito a passar.


Os dias pareciam muito longos, intermináveis, e as tardes não tinham fim.


No meu tempo as aulas eram dadas na parte da manhã.


À tarde fazíamos a tarefa em casa, ajudados pela minha mãe.


Um pouquinho depois que o sol escondia, íamos para a cama dormir.


No período das provas acordávamos alta madrugada para recordar as lições com a minha mãe.


Os antigos acreditavam ser o melhor horário para aprender.


A metodologia empregada era a ‘decoreba’, inclusive matemática.


Isso me fez um excelente aluno em Cuiabá, e ‘despreparado’ no Rio de Janeiro.


Impossível ‘decorar’ um livro de anatomia ou fisiologia.


Demorei a ‘aprender a entender’ o que lia.


Os dias eram curtíssimos, e os ‘veteranos’ me ensinaram a usar remédios para não dormir e ‘varar às noites’ estudando.


Conheci o terrível ‘Pervitim’, uma descoberta dos alemães na Segunda Guerra Mundial para tirar a estafa e sono da tropa.


A invenção logo se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil.


Fui dependente desta droga, sempre aumentando a sua dosagem, durante os seis anos de curso de Medicina.


O remédio não era ‘controlado’ e sua venda farta.


No Catete, bairro que concentrava os alunos pobres do interior, o Pervitin era receitado e aconselhado pelos balconistas das farmácias.


Na Farmácia Jacy, na Praça José de Alencar, fui atendido pelo ainda não famoso cantor Anísio Silva.


No último ano do curso de Medicina, cheguei a tomar três comprimidos à noite e dormir tranquilamente.


Terminei o curso e deixei o vício, sem traumas em mim.


Foi apenas ‘um suporte acadêmico’ que a minha geração do interior, mal preparada no curso fundamental e médio, usou e abusou para conseguir as suas metas.


Anos depois abandonei o cigarro industrializado também por insegurança educacional e das tarefas enfrentadas.


Único vício que tenho é a de gostar muito de namorar, pois esse não acaba.


E os dias atuais voam.


Gabriel Novis Neves

20-06-2024




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