sexta-feira, 14 de junho de 2013

Moralistas

Em todas as camadas sociais encontramos falsos moralistas.
Para os habitantes desta terra abençoada, que em se plantando tudo dá, o falso moralismo é quase uma necessidade biológica.
Alguns poderão dizer que excessos existem, e que a hipocrisia  não é tão intensa assim.
Existe um setor no nosso país em que há uma unanimidade de falso moralismo.
Estou me referindo ao nosso serviço público, que tão bem conhecemos como funciona.
Quase todos os grandes escândalos atualmente têm a participação dos órgãos públicos.
Pois bem, em termos de moralismo esse setor é imbatível. 
Funcionário público federal aposentado. Por lei é obrigado todos os anos, no mês do seu aniversário, a comparecer à sede da sua repartição para fazer o recadastramento para não ter o seu salário cortado.
É uma medida moralizadora à classe dos pequenos barnabés que, muitas vezes, em cadeiras de rodas, são obrigados a provar que ainda estão vivos.
Esse "qualquer um" foi ao seu antigo serviço com grandes dificuldades de locomoção para cumprir a lei.
Encontrou o prédio fechado, com cartazes, adesivos e faixas, anunciando a greve dos funcionários.
Desesperado, com receio de ficar sem o dinheiro para a compra da sua cesta básica de medicamentos, implorou ao guarda do prédio, para que o ajudasse a resolver a sua situação.
Foi orientado para que utilizasse o elevador da garagem.

Nesse momento da cabine de segurança, ele percebe que o "visitante" estava de bermudas.
Como zelador da ordem e dos bons costumes, avisa que o regulamento daquela repartição não permite o acesso de pessoas com bermudas nas suas dependências. 

Procurou pelo chefe da casa, única autoridade com poderes de decidir sobre esse caso. Não o encontrou. Tinha saído.
Diante daquela quase tragédia típica de falso moralismo e na iminência de não resolver o seu caso, o idoso implora ao segurança para que insista em encontrar outra estratégia. 
Este então, se comunica com a funcionária responsável pelo recadastramento, dizendo tratar-se de um caso especial.
A servidora em um gesto humanitário o atende na garagem.
Recadastramento feito, o ex-servidor humilhado volta para casa.
O serviço público, reduto das mais altas demonstrações de imoralidade, viu, nos trajes do velho, um impedimento para que ele fosse dignamente atendido.
Triste constatar que a insensibilidade arrogante e o falso moralismo dos fazedores dos regulamentos públicos não conheçam o velho adágio que diz que “o hábito não faz o monge”.
Este ano o recadastramento será feito nos bancos. Será que eles são mais humanizados?

Gabriel Novis Neves
27-03-2013

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