domingo, 2 de junho de 2013

Desencontros

Os desencontros são a tônica do nosso caminhar pelos descaminhos da vida.
Costumamos fantasiar na nossa busca incessante de amor, como se esse sentimento, de tão apregoado e louvado, pudesse ser encontrado em qualquer esquina.
Isso acontece muito com as pessoas sistólicas, sempre abertas para grandes emoções.
Os engessados emocionais, ao contrário, se fecham diante da mais remota possibilidade de um desabrochar sentimental.
Sofrem menos sim, mas perdem o que de mais bonito a vida pode oferecer, que é a troca energética promovida pelo encontro.
Assim, carreiam de pobreza as suas vidas familiar, social e afetiva, fechados que estão a toda e qualquer experiência existencial mais intensa.
Muitas vezes, nem percebem o grau de distanciamento que produzem e que a ele ficam submetidos. Alguns, até conseguem passar para os circunstantes uma aura de paz e de equilíbrio, logo desfeita a um contato mais íntimo.
Há que se estar preparado para a difícil arte do encontro, tão louvada pelos poetas e cada vez mais rara nos dias atuais.
O ensimesmamento é causa sempre de grandes conflitos internos. E, não raro, precursores de surtos psicóticos.
Somos animais gregários e, como tal, precisamos desse aconchego mútuo, fundamental ao pleno desenvolvimento de nossas aptidões.
Saber ser só, sim, mas por opção de exigência momentânea, e não, por incapacidade de convivência plena, até porque a nossa referência é sempre “o outro”, para o bem e para o mal.
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais as pessoas se tocam menos, e já presenciamos o encontro de namorados que se portam como se ali não estivessem, manuseando ambos os seus dedinhos em mensagens para o nada.
O contato perdido naqueles momentos de convivência jamais será recuperado. Seus bilhões de células sensoriais estarão, em breve, perdendo a sua função por absoluto desuso.
Estaria vindo por aí uma geração de seres robotizados, incapazes das trocas afetivas transmitidas por um olhar ou pelo livre jogo das ideias?
Parece que aos jovens isso soa tão obsoleto quanto às menções elogiosas que fazem seus pais e avós aos românticos e glamorosos anos sessenta.
Como eles mesmos dizem, “a fila anda”.
A nós, cabem apenas constatação e adaptação, coisas que, aliás, estamos fazendo com bastante eficiência nestes últimos setenta anos.

Gabriel Novis Neves
16-05-2013

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