quarta-feira, 12 de junho de 2013

Fase

Desde que ultrapassei o meio dia da vida, há mais de um quarto de século, me interesso sobre o estudo da velhice.
Na minha Faculdade de Medicina não existia no currículo escolar nada sobre essa fase da vida, novidade que surgiu nos últimos anos do século XX.
Antes, com raríssimas exceções para confirmar a regra, a expectativa de vida era inferior aos cinquenta anos.
Hoje, é frequente recebermos convites para aniversário de centenário de vida. Já participei de dois, coisa impensável para um jovem estudante de medicina.
Que bela é essa fase da vida quando assumida e compreendida! O idoso está sempre bem para a sua idade.
Se, por acaso, esquece o número do telefone da casa da sua filha, nada de preocupante. São coisas dos idosos.
Mas, se uma criança tem dificuldade de aprendizado e tem uma avaliação insuficiente por não se lembrar da tabuada de dois, o caso requer atenções especiais.
Deverá ser encaminhada, com a máxima urgência, para um raro especialista, o psicopedagogo, para tratamento.
Quer fase mais criativa que a infância? É a época das descobertas, da curiosidade pelo desconhecido, das fantasias, e não, de bobagens desnecessárias que a maioria das nossas escolas insiste em repetir.
A criança tem inquietação, o idoso tem calmaria - carregado por hábitos adquiridos, às vezes sem nenhuma utilidade prática.
As queixas corriqueiras que incomodam os jovens, como dor de cabeça, digestão difícil e até preguiça, levam seus familiares a procurar os melhores especialistas para tratamento. Na era da medicina tecnológica os exames laboratoriais de ponta são solicitados para nada.
O idoso passa pelos mesmos dissabores. Sabendo que a sua pressão arterial está sobre controle com medicamentos, a sua glicemia no limite da normalidade ou pouco alterada, o colesterol vigiado e o peso acima do normal, mas tratado com exercícios e higiene alimentar, tudo é considerado como pequenos desconfortos biológicos transitórios.
O envelhecimento que recrudesce na maturidade é o mais fisiológico dos processos do ciclo biológico.
É o momento de apavoramento para muitos, que não entendem as rugas como presentes da natureza. Os cabelos prateados, sinal dos vitoriosos.
Aquela dorzinha que cada dia aparece em um lugar do nosso corpo é sinal de vitalidade brincando com a queda de produção dos nossos hormônios.
No ainda não idoso, ou idoso resistente, isso é inaceitável.
Torna-se prisioneiro dos milagrosos esteticistas, e até de sofás de analistas.
Os cabelos brancos são transformados nas mais diferentes cores, com predominância do ouro, acaju, preto e, os mais descolados, enfrentam um vermelho PT e até verde PV. Não se esquecendo dos apaixonados pelo azulão.
O homem perde testosterona, a mulher os hormônios ovarianos. Isso é fisiológico.
Não será uma pintura nos cabelos, infiltrações de botox ou até cirurgias reparadoras daquilo que a natureza criou, que essa fase da nossa existência, preconceituosamente, seja chamada de “melhor idade”.
Os pelos ficam rarefeitos, quando não desaparecem. Há perda de massa muscular. Nos homens é comum o aparecimento da calvície. Nada disso é doença.
Sem falar dos problemas ósteo-articulares, hoje em alta.
Falar que essa fase é a melhor idade é desconhecer o processo de envelhecimento dos humanos e de todos os seres vivos do planeta Terra.
É quase a última etapa dessa longa caminhada para alguns, em que nada acontece por acaso.
Felizes daqueles que, mesmo vivendo no ninho vazio, entendem que a vida é assim, e é perfeita do começo ao fim.
“Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente” - Érico Veríssimo.

Gabriel Novis Neves
28-05-2013

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