Desde
que ultrapassei o meio dia da vida, há mais de um quarto de século, me
interesso sobre o estudo da velhice.
Na
minha Faculdade de Medicina não existia no currículo escolar nada sobre essa
fase da vida, novidade que surgiu nos últimos anos do século XX.
Antes,
com raríssimas exceções para confirmar a regra, a expectativa de vida era
inferior aos cinquenta anos.
Hoje,
é frequente recebermos convites para aniversário de centenário de vida. Já
participei de dois, coisa impensável para um jovem estudante de medicina.
Que
bela é essa fase da vida quando assumida e compreendida! O idoso está sempre
bem para a sua idade.
Se,
por acaso, esquece o número do telefone da casa da sua filha, nada de
preocupante. São coisas dos idosos.
Mas,
se uma criança tem dificuldade de aprendizado e tem uma avaliação insuficiente
por não se lembrar da tabuada de dois, o caso requer atenções especiais.
Deverá
ser encaminhada, com a máxima urgência, para um raro especialista, o
psicopedagogo, para tratamento.
Quer
fase mais criativa que a infância? É a época das descobertas, da curiosidade
pelo desconhecido, das fantasias, e não, de bobagens desnecessárias que a
maioria das nossas escolas insiste em repetir.
A
criança tem inquietação, o idoso tem calmaria - carregado por hábitos
adquiridos, às vezes sem nenhuma utilidade prática.
As
queixas corriqueiras que incomodam os jovens, como dor de cabeça, digestão
difícil e até preguiça, levam seus familiares a procurar os melhores
especialistas para tratamento. Na era da medicina tecnológica os exames
laboratoriais de ponta são solicitados para nada.
O
idoso passa pelos mesmos dissabores. Sabendo que a sua pressão arterial está
sobre controle com medicamentos, a sua glicemia no limite da normalidade ou
pouco alterada, o colesterol vigiado e o peso acima do normal, mas tratado com
exercícios e higiene alimentar, tudo é considerado como pequenos desconfortos
biológicos transitórios.
O
envelhecimento que recrudesce na maturidade é o mais fisiológico dos processos
do ciclo biológico.
É
o momento de apavoramento para muitos, que não entendem as rugas como presentes
da natureza. Os cabelos prateados, sinal dos vitoriosos.
Aquela
dorzinha que cada dia aparece em um lugar do nosso corpo é sinal de vitalidade
brincando com a queda de produção dos nossos hormônios.
No
ainda não idoso, ou idoso resistente, isso é inaceitável.
Torna-se
prisioneiro dos milagrosos esteticistas, e até de sofás de analistas.
Os
cabelos brancos são transformados nas mais diferentes cores, com predominância
do ouro, acaju, preto e, os mais descolados, enfrentam um vermelho PT e até
verde PV. Não se esquecendo dos apaixonados pelo azulão.
O homem
perde testosterona, a mulher os hormônios ovarianos. Isso é fisiológico.
Não
será uma pintura nos cabelos, infiltrações de botox ou até cirurgias
reparadoras daquilo que a natureza criou, que essa fase da nossa existência,
preconceituosamente, seja chamada de “melhor idade”.
Os
pelos ficam rarefeitos, quando não desaparecem. Há perda de massa muscular. Nos
homens é comum o aparecimento da calvície. Nada disso é doença.
Sem
falar dos problemas ósteo-articulares, hoje em alta.
Falar
que essa fase é a melhor idade é desconhecer o processo de envelhecimento dos
humanos e de todos os seres vivos do planeta Terra.
É
quase a última etapa dessa longa caminhada para alguns, em que nada acontece
por acaso.
Felizes
daqueles que, mesmo vivendo no ninho vazio, entendem que a vida é assim, e é
perfeita do começo ao fim.
“Felicidade
é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente” - Érico
Veríssimo.
Gabriel Novis Neves
28-05-2013
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