domingo, 30 de junho de 2024

HOJE À TARDE É FERIADO


Estava caçando notícias para escrever às pressas a minha coluna, já que hoje à tarde é feriado para mim.


Só porque vou assistir ao futebol pela TV, acreditem!


O ‘clássico vovô do futebol carioca’ Fluminense e Flamengo irão se enfrentar pelo Campeonato Brasileiro da Série A.


O inusitado dessa partida é que o Flamengo ocupa a primeira colocação do torneio e o Fluminense é o último colocado entre os vinte times do certame.


É o clube lanterninha da competição e já frequenta, por semanas, a desagradável zona de rebaixamento para a segunda divisão.


Futebol não tem lógica — exclamam os apaixonados torcedores!


E não tem mesmo.


O Fluminense é o atual campeão da Taça Libertadores e vice-campeão de clubes do Mundo.


Este ano está muito bem colocado na Taça Libertadores.


Seu elenco possui o melhor goleiro do Brasil de 42 anos, e está recheado de consagrados ‘jogadores veteranos’ egressos da Europa.


Os comentaristas esportivos estão sempre a ‘inventar modas’ para explicar o óbvio.


O time do Fluminense passa por um período de ‘oscilação’!


Que coisa mais criativa para dizer que a bola não está entrando no gol adversário — só no dele!


‘Perna de pau’ da minha época de criança, foi substituído pelas ‘oscilações’ dos craques muito mais elegantes.


E por incrível que pareça, o jogo terminou com a vitória do Fla por 1X0, com o gol feito de pênalti.


O Flamengo continua, ‘por enquanto’, na liderança do campeonato e o Fluminense em último lugar, bem atrás do Cuiabá.


Futebol profissional é técnica e juventude.


O time do Fluminense não tem jovens, apenas veteranos sem condições de participarem de torneios de alto nível.


A política de trazer jogadores velhos, não deu certo no Fluminense, pois ‘oscilam’ muito durante as partidas.


Prefiro um time de garotos sem lesões musculares ou ósseas, correndo o campo todo, a um de veteranos lesionados.


O Fluminense está pagando alto pela insistência em persistir com jogadores veteranos.


Se continuar ‘gostando de perder’, em dezembro estará ‘por merecimento’ na segunda divisão.


Se brincar vai para a terceira divisão da qual já foi salvo pelo Tribunal de Justiça Desportiva.


Gabriel Novis Neves

24-06-2024




sexta-feira, 28 de junho de 2024

VENTO SUL


Fui avisado por um amigo que mora numa região deserta nos contornos de Cuiabá, que retirasse os agasalhos de frio do armário.


Disse que lá pelas suas bandas sentia ‘um ventinho sul agradável’ — prenúncio de queda de temperatura.


Consultei ‘o tempo’ no meu celular e ele marcava 23 graus!


Fui dormir com o meu dormitório refrigerado, como sempre, em 19 graus.


Ao acordar, antes das sete da manhã, e abrir a janela senti um vento frio, que me obrigou a mantê-la fechada e seguir a opinião da minha enfermeira colocando um casaco de lã.


Consultei novamente ‘o tempo’, que agora marcava 18 graus.


A cozinheira chegou de moto, toda ‘encapuzada’ avisando que, finalmente, o frio chegou.


Os cômodos que ficam na parte da frente do meu apartamento tiveram suas janelas fechadas.


Escrevo no escritório do meu apartamento que não foi agraciado pelo vento sul.


O sol reinou como nos melhores dias e inundou o meu escritório, que fica nos fundos da cobertura.


Para mim este inverno se resumiu numa noite de ‘agradáveis ventos sul’.


Como está ‘tudo mudado’ as festas juninas de bem antigamente eram com temperaturas amenas, seguidas das madrugadas ‘geladas’ das missas de São Benedito.


Meu aniversário na primeira semana de julho era sempre com frio, ficando os convidados todos ‘empilhados’ nos salões da cobertura.


Nos jardins do meu apartamento ninguém se atrevia a ficar lá.


‘Bebidas fortes’ e ‘comidas quentes’ faziam a alegria de todos os parentes e amigos.


O sol se fará presente em todos os próximos dez dias, e só as madrugadas terão climas agradáveis para a nossa tristeza, já que passamos todo o ano no calor.


Meu motorista ‘ralhou comigo’ de tanto que fico reclamando do tempo, pois existem coisas bem piores, como as enchentes, inundações e ‘golpe militar’ na vizinha Bolívia.


Calor já estamos acostumados e ‘sabemos nos virar’.


Gabriel Novis Neves

26-06-2024




quinta-feira, 27 de junho de 2024

PEGADINHAS DE VERDADE


Aprendi, sem ninguém me ensinar, a colocar no final da crônica uma frase surpresa, que é um ‘corte’ na linha lógica do desenvolvimento da narração.


Após ela, dá-se um ‘salto’ inesperado, inusitado e gracioso, na opinião de alguns leitores.


Em “Mundo Infantil” quem leu o texto todo gostou, pois o humor que faço sobre mim mesmo agradou a muitos.


Quem não gosta de ler que um idoso de 89 anos só tem um vício — que é o gostar de namorar muito?


Certas verdades ninguém acredita, e parecem pegadinhas ou fake news.


Quem não gosta de saber que o escritor é ridicularizado por ele mesmo?


Gostei tanto do resultado da ‘experimentação’ que já escrevi sobre a minha ‘inabilidade literária’.


Como disse um jornalista amigo sobre a minha crônica:


‘Eita, isso é bom demais’ — para o vício de gostar muito de namorar.


Quando retornei à Cuiabá, os médicos tinham seus consultórios em casa.


A atendente de um médico famoso me contou que certa ocasião, devido a um forte barulho de pessoas falando, o facultativo lhe chamou na sua sala de atendimento para saber o que estava acontecendo.


Nada, foi a sua resposta.


O ‘seo’ Joaquim chegou de carroça do Livramento para consultar.


Disse que ele estava completando 100 anos e a sua ‘filharada’ achava que ‘estava na idade de ir ao médico’.


O médico mandou logo que ele entrasse para desobstruir a estreita rua dos Porcos, no centro da cidade.


O médico engraçado foi logo perguntando qual o motivo da consulta.


Ele respondeu: presente de aniversário dos meus filhos.


Então o senhor não tem queixas?


Não, senhor doutor.


O médico brincalhão perguntou — e aquele ‘negócio’ ainda funciona ou não?


Que ‘negócio’?


Responde assustado o cliente?


Esse que ‘faz filhos’.


Uai seo doutor — esse negócio acaba?


Ele deixa de funcionar com quantos anos?


E retornou de carroça para o Livramento, doido para ‘namorar’ a sua quinta mulher de vinte anos.


Gabriel Novis Neves

22-06-2024




quarta-feira, 26 de junho de 2024

O SANTO MENINO


Gosto muito de ler a história da vida dos ‘Santos’.


Uma das que mais me encantou foi a de São João.


Ele nasceu seis meses antes do Messias, filho de um missionário chamado Zacarias e Isabel, irmã de Maria, mãe de Jesus.


Suas esculturas, na maioria, são de uma criança.


Dizem os estudiosos que ele veio ao mundo, para preparar a chegada de Jesus.


Morreu aos trinta anos e instituiu o batizado, que foi agregado ao seu nome — João Batista, de batismo.


Esse sacramento criado por Ele era para nos salvar do ‘pecado original’.


Viveu muitos anos no deserto, tendo uma ovelha por companheira e se alimentando de folhas, insetos e mel.


São João batizou Cristo no rio Jordão, sendo o seu padrinho.


O primo de Cristo fugiu quando o Rei Herodes autorizou a matar todos os meninos, pois não queria dividir o ‘trono’ com o Messias.


Lembrou que a mãe de João Batista, Isabel, teria feito uma fogueira para avisar Maria que estava prestes a parir e precisava de ajuda.


Enfeitou o local que morava, com bandeirolas coloridas e uma fogueira.


Quando viu o local com bandeirolas e fogueira, Maria veio com o seu marido José visitar o sobrinho que acabara de nascer.


É por isso que existem as fogueiras nas festas juninas.


A fogueira queimava os nossos pecados.


Foi o precursor de Jesus no nascimento, na missão aqui na Terra e também na morte.


A cultura religiosa de São João está muito impregnada em nossa sociedade e é lembrada em todo o país.


No Nordeste brasileiro São João é festejado quase durante um mês.


Atrai milhares de turistas de todos os pontos do país e exterior, melhorando o Caixa do Tesouro.


Fogueiras, bandeirolas coloridas, fogos de artifício, roupas especiais para homens e mulheres, comidas típicas da festa.


‘Batismo’ ou ‘lavagem’ do santo em um córrego ou rio com muita alegria, sempre com uma bandinha de música cantando o hino de São João com os fiéis.


Assim, aprendi a comemorar as festas de São João!


Gabriel Novis Neves

24-06-2024




terça-feira, 25 de junho de 2024

IBAMA


Recebi de uma amiga índia, que mora em aldeia no Parque Indígena do Xingu, uma mensagem pedindo ajuda sobre as queimadas que estão acontecendo nas suas terras.


Ela me encaminhou também um vídeo em que mostra a queimada em sua região e seu desabafo.


Acusa o Ibama de não controlar incêndios em sua área, destruindo a vegetação serrana e animais.


Não respeitaram as árvores frutíferas e a ossada dos animais é enorme.


Ysani que mora na região, está coletando ossos de animais para mostrar às autoridades competentes.


Ela demostra em vídeo que é grande a extensão do cerrado queimado.


Pede a minha ajuda junto ao Ibama para acabar com os incêndios florestais.


O que posso fazer, já que não tenho mandato político, é escrever sobre o que acontece no nosso ‘cerrado e mata alta’, não respeitando as terras indígenas.


A mata queimada tem valor econômico e muitos índios da região são fazendeiros vivendo em conluio com os homens do agronegócio.


Outro grande problema na região é a exploração do garimpo ilegal, causador de grandes conflitos na região.


Alguns índios absorveram hábitos ‘dos brancos’ e se tornaram capitalistas, usufruindo dos prazeres do dinheiro.


Muitos são índios apenas quando vão à Brasília fazer reivindicações e aparecer na TV.


As plantações de soja e criação do gado avançam ‘gloriosamente’ sobre as suas terras, e com o beneplácito da FUNAI.


O Parque Indígena do Xingu tem 16 etnias, divididas em quatro troncos linguísticos e foi fundado por Darcy Ribeiro, Irmãos Vilas-Boas e Marechal Rondon.


São cerca de 5.500 índios e estão rodeados de cidades, predominando entre eles a promiscuidade.


Notícias do Sul informam que o Pantanal — maior planície de terras inundadas do planeta Terra, com suas incríveis queimadas, está sendo preparado para o ‘plantio do arroz’.


Teremos o maior ‘arrozal’ do Brasil com prejuízos incalculáveis para nossa flora e fauna.


Que nossas autoridades do Ibama, ouçam a índia Ysani, estudiosa e vigilante do seu povo, sobre o que está acontecendo.


Ela teme que em breve não existirá o Parque Nacional do Xingu.


Seus limites são com nove municípios mato-grossenses:


Gaúcha do Norte, Querência, Feliz Natal, Paranatinga, São Félix do Araguaia, Marcelândia, Canarana, Nova Ubiratã, São José do Xingu.


As maiores reservas de minérios nobres do mundo estão no nosso cerrado e mata alta.


Vamos ficar de braços cruzados, assistindo à sua destruição?


Gabriel Novis Neves

23-06-2024




Vídeo do YouTube

LINK:

Vídeo no Instagram


INSPIRAÇÃO


Li que a inspiração é indispensável ao trabalhado criativo, principalmente de produção literária e artística.


Os grandes romances e poemas, assim como composições musicais, necessitam de muito trabalho e inspiração.


Conheço escritores que levaram dezenas de anos para concluir, revisar e imprimir o seu trabalho.


E o reconhecimento por toda essa dedicação muitas vezes vem tardiamente, até mesmo depois da sua morte.


Outros colocam poesia ‘de uma só tacada’, em cima de uma partitura musical virgem de letra.


Conheço exemplos contemporâneos, tanto para alguns como para outros, e os chamo de gênios.


Artistas plásticos famosos que param de trabalhar por achar a sua temática esgotada.


Tentam outros projetos e retornam ao original.


Descobrem que ainda têm muito a explorar na sua antiga temática.


Tive o privilégio de trabalhar com programadores visuais, artistas plásticos, músicos, poetas, escritores produtivos, e em determinadas ocasiões são totalmente estéreis nas suas funções.


Já precisei do texto de uma página e o escritor não conseguiu atender ao pedido feito.


Embora tivesse presenciado ele datilografar no saguão do hotel — ‘a Universidade da selva’ —, um documento que foi fundamental à nossa Universidade Federal.


Assisti por vídeo a compositora Dolores Duran escrever no guardanapo de uma boate de Copacabana, os versos da canção: ‘Noite do Meu Bem’!


Tim Maia, poeta popular, confessou que às vezes levava anos procurando uma palavra certa para a sua composição.


Eu que sou um curioso da literatura, escrevo de uma a três crônicas todos os dias e o que parece não me faltar é a inspiração.


Ainda mais que descobri que resgato hábitos que ninguém lembra, valorizando o cotidiano para as minhas escritas.


Hoje acordei e passei quase toda a manhã perambulando inspirações pelo meu celular e notebook.


Nada de inspiração, e muito trabalho.


Como em jogo de futebol, na prorrogação para o intervalo do horário do almoço, brotou a inspiração, e de uma só vez escrevi o texto para publicar.


Gabriel Novis Neves

19-06-2024




domingo, 23 de junho de 2024

ATIROU NO QUE VIU


‘Atirou no que viu e acertou no que não viu’ é um dos provérbios com maior sabedoria que conheço.


Quando foi construído o ‘Hotel do Manso’ seu proprietário, com certeza, tinha ‘informação privilegiada’ que o ‘jogo de azar’ seria liberado no Brasil.


Os cassinos seriam reabertos e o turismo incrementado com novas frentes de trabalho.


O luxuoso Hotel do Manso foi construído com essa finalidade, fica à noventa quilômetros de distância de Cuiabá.


Possui pista de pouso para jatinhos executivos e heliporto.


Para aviões de maior porte o aeroporto seria o Marechal Rondon em Várzea Grande, cidade que faz parte da Grande Cuiabá.


Tem vista maravilhosa para o lago do Manso, local adequado para prática de esportes aquáticos.


O hotel é maravilhoso, espaçoso, com culinária internacional e música ao vivo.


Seus frequentadores são do agronegócio e alguns profissionais liberais de Cuiabá.


Enfim, um belo hotel ‘perdido’ próximo a serra da Chapada dos Guimarães, com clima ameno e rico em belezas naturais.


Não sei a razão do ‘jogo’ continuar proibido no Brasil, desde o governo do Presidente da República Eurico Gaspar Dutra, cuiabano.


Dizem que o Presidente atendeu ao pedido da sua mulher católica Carmela Dutra, chamada de dona Santinha.


Alguma ‘força oculta’, proibiu a reabertura dos cassinos, colocando por água abaixo a ambição do cassino no hotel construído para essa finalidade.


Como ‘quem não tem cão caça com gato’, enquanto espera a ‘liberação oficial dos cassinos’, o hotel acolhe endinheirados fazendeiros, cantores sertanejos de Goiás e eventos de grandes empresas nacionais e multinacionais.


Dizem que a ‘clandestinidade’ funciona muito bem no Brasil em todas as suas modalidades e protegidas pelos órgãos oficiais.


Não sei a razão de países das Américas liberaram os cassinos, e nós não.


Não sou jogador, porém conheço cassinos no Uruguai, Argentina, Chile, América Central e do Norte.


O ministro da Agricultura do Brasil escolheu o hotel do Manso para sediar um ‘Encontro Internacional’.


Justificou dizendo que Cuiabá, sede de uma Copa do Mundo em 2014, não apresenta condições.


Novo provérbio para elucubrações: ‘Mateus, primeiro os teus’.


O Ministro da Agricultura de ‘plantão’ é membro da ‘confraria do agronegócio’.


Tudo entendido?


Gabriel Novis Neves

21-05-2024




BARULHO E SILÊNCIO


Domingo à tarde, no escritório do apartamento do vigésimo andar do prédio onde moro, só ouço o barulho do motor do aparelho de refrigeração.


Tudo mais é silêncio que ‘amedronta’.


Tenho medo do ‘silêncio e da escuridão’.


Esse ‘hábito familiar’ adquiri na infância.


Ele me obriga a dormir em um quarto com um ‘fio de claridade’, e pelo menos o ‘barulho suave de um motor de refrigeração’.


Sinto-me acompanhado com o ‘latido’ de cães vadios namorando pelas ruas.


A claridade do dia nascendo me enche de alegria.


Mesmo nos dias de frio, com temperaturas de quinze graus, ligo a refrigeração do dormitório.


Como hábito não é doença, essa ‘traquinagem’ infantil me acompanhará para o resto da vida.


A ‘forte claridade permanente’ e o ‘barulho excessivo’ de uma UTI me incomodam mais que o hábito familiar.


Não sou portador de neurose, que é uma doença adquirida e precisa de tratamento psiquiátrico.


O pavor ao silêncio e a escuridão traduzem um ‘hábito’ da cidadezinha em que nasci, com menos de cinquenta mil habitantes.


Ruas estreitas, becos, largos, córregos, compunham o cenário da minha cidadezinha.


Na minha infância a noite começava com o pôr do sol e o final da retreta na Praça Alencastro.


Restava o silêncio e a escuridão.


Como era triste acompanhar meu pai fechar portas e janelas do bar, após o término das retretas!


A Praça esvaziava rapidamente, sobrando o silêncio e a escuridão.


Até hoje sinto saudades das noites de domingo.


A chave da porta da rua da minha casa era controlada pela minha mãe.


Ninguém dormia sem beber um copo de leite gelado.


Esses hábitos levei para o Rio de Janeiro para cursar Medicina, quando permaneci por quase doze anos.


Gabriel Novis Neves

09-06-2024









sexta-feira, 21 de junho de 2024

MUNDO INFANTIL


Quando criança o tempo custava muito a passar.


Os dias pareciam muito longos, intermináveis, e as tardes não tinham fim.


No meu tempo as aulas eram dadas na parte da manhã.


À tarde fazíamos a tarefa em casa, ajudados pela minha mãe.


Um pouquinho depois que o sol escondia, íamos para a cama dormir.


No período das provas acordávamos alta madrugada para recordar as lições com a minha mãe.


Os antigos acreditavam ser o melhor horário para aprender.


A metodologia empregada era a ‘decoreba’, inclusive matemática.


Isso me fez um excelente aluno em Cuiabá, e ‘despreparado’ no Rio de Janeiro.


Impossível ‘decorar’ um livro de anatomia ou fisiologia.


Demorei a ‘aprender a entender’ o que lia.


Os dias eram curtíssimos, e os ‘veteranos’ me ensinaram a usar remédios para não dormir e ‘varar às noites’ estudando.


Conheci o terrível ‘Pervitim’, uma descoberta dos alemães na Segunda Guerra Mundial para tirar a estafa e sono da tropa.


A invenção logo se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil.


Fui dependente desta droga, sempre aumentando a sua dosagem, durante os seis anos de curso de Medicina.


O remédio não era ‘controlado’ e sua venda farta.


No Catete, bairro que concentrava os alunos pobres do interior, o Pervitin era receitado e aconselhado pelos balconistas das farmácias.


Na Farmácia Jacy, na Praça José de Alencar, fui atendido pelo ainda não famoso cantor Anísio Silva.


No último ano do curso de Medicina, cheguei a tomar três comprimidos à noite e dormir tranquilamente.


Terminei o curso e deixei o vício, sem traumas em mim.


Foi apenas ‘um suporte acadêmico’ que a minha geração do interior, mal preparada no curso fundamental e médio, usou e abusou para conseguir as suas metas.


Anos depois abandonei o cigarro industrializado também por insegurança educacional e das tarefas enfrentadas.


Único vício que tenho é a de gostar muito de namorar, pois esse não acaba.


E os dias atuais voam.


Gabriel Novis Neves

20-06-2024




RECORDE


Nunca me preocupei em façanhas alcançadas e valorizadas, principalmente nos esportes e na Academia.


Pelé foi recordista no futebol e o Brasil é muito cobrado por não possuir Prêmio Nobel.


Meu ‘inventor’ como escritor me avisou com antecedência que em julho completo um recorde publicando, só no blog ‘Bar do Bugre’, 3.500 crônicas.


Confesso que fico surpreso com esse número, especialmente para quem iniciou a escrever sobre o cotidiano após os setenta anos de idade.


Minha inspiração surgiu quando me sobrou tempo, a idade avançou e eu precisava de uma forma digna para curtir a velhice.


Cheguei a não escrever por algum tempo, quando venci as intempéries próprias da vida do idoso.


Também parei de caminhar pelas ruas e avenidas da minha cidade.


Encontrava nas minhas andanças motivo para escrever sobre tudo que via.


Depois de submerso, retornei a escrever sem mais parar.


Tenho orgulho pelo trabalho realizado de forma amadora e com os resultados alcançados.


Muito jovem aprendi com o meu pai e avô Alberto Novis a ler o Jornal do Brasil e do Comércio, do Rio de Janeiro.


Estudante na ‘cidade grande’ aprimorei a leitura de seus inúmeros e bons jornais.


Foi um ensinamento sedimentado, que vim a aproveitar no início da casa dos setenta anos.


O conhecimento nunca é esquecido, especialmente em tempos de ‘burrice artificial’.


O ‘cotidiano é um mosaico irrepetível’, diria o meu professor de português!


Nunca tive recordes a cumprir com as minhas crônicas publicadas.


Agora que fui ‘despertado’ pelo editor do ‘Bar do Bugre’, farei de tudo para chegar a 4.000 crônicas!


Tenho que permanecer na ‘minha futura casa nova’ dos noventa anos, pelo menos dois anos.


Gostaria de escrever ainda sobre fatos que aconteceram e já desapareceram com o tempo aqui na minha querida e tricentenária Cuiabá.


Como protagonista por quase um século das conquistas de Cuiabá e do Estado de MT, pretendo deixar um pouco da nossa história às futuras gerações.


Gabriel Novis Neves

14-06-2024




quarta-feira, 19 de junho de 2024

HOSPEDARIA


Para manter a harmonia no lugar de trabalho trato cada funcionária que trabalha comigo pelo ‘apelido’ — são quatro.


Assim tenho:


‘Funcionária pública’ — é a cozinheira.


Chega ao serviço pontualmente às oito horas da manhã e às quatro da tarde, ou um pouco antes, retorna para sua casa.


Nunca falta ao trabalho, e quando se atrasa me traz um atestado médico.


Eu a avalio como uma funcionária exemplar.


‘Plantonista’ — é a enfermeira noturna, que graças a Deus dorme à noite toda, sinal que estou muito bem de saúde.


Se deixar a minha casa pela manhã exausta de tanto trabalhar em noite mal dormida, é que estou mal de saúde.


‘Estagiária’ — é a técnica de enfermagem que me faz companhia aos domingos, passando a tarde-noite assistindo comigo aos ‘jogos do brasileirão’.


Depois descansa na sua suíte.


'Hospedeira' — minha filha, após a minha alta da UTI em março, encaminhou uma ‘cria da casa’ para me fazer companhia durante o dia, facilmente alcançável pela campainha que fica comigo.


Suas obrigações terminam às quatro horas da tarde.


De uns tempos para cá, ela vai para sua pensão (aluga um quarto na casa de ‘uma irmã da igreja’).


O curioso é que ás nove e meia da noite ela retorna ao seu local de trabalho, para ‘pousar na hospedaria’, razão do seu apelido.


Elas riem dos apelidos, e usam entre elas.


Funcionária pública, plantonista noturna, estagiária e hóspede da hospedaria.


‘Terrorista’ — é o fisioterapeuta que me atende em casa duas ou três vezes por semana.


Não conheço ninguém que não reclama dos exercícios do fisioterapeuta.


Daí o seu apelido de ‘terrorista’.


Só não o dispenso por ser um excelente profissional e também pelos seus ‘conhecimentos em internet e celular’.


Ninguém se cansa trabalhando comigo, pois sou um velhinho que administro a minha casa, durmo bem à noite e só resmungo do ‘dói’.


O tempo passa e eu continuo firme e forte com a cabeça boa, fazendo coisas que até o diabo dúvida.


Mesmo assim para ‘pura tranquilidade dos meus filhos’, o número de ‘cuidadoras’ cada vez aumenta mais, consumindo boa parte do meu holerite.


Quem será a próxima a vir cuidar de mim e para quê?


Gabriel Novis Neves

18-06-2024




VESTUÁRIO INÚTIL


A roupa de vestir deveria ser sempre útil e arrumada no guarda-roupa.


Na prática isso não acontece, e tenho uma gaveta lotada de pijamas.


Todos eles ganhei de presente em ‘datas especiais’: meu aniversário, Natal e Dia dos Pais.


Alguns dos meus filhos me presenteiam quando retornam de viagens.


Já avisei que não preciso mais de pijamas, pelo menos nesta vida.


Não se conformam com a minha advertência e justificam dizendo que os pijamas poderão ser úteis numa internação hospitalar.


Pijama e frutas, como maçã e pera, fazem parte da imaginação popular com relação à doença.


Quando plantonista de hospitais do SUS, no horário das visitas, tive a oportunidade de constatar o que afirmo.


A maçã e a pera não fazem parte da alimentação dessa clientela, caracterizando-as como ‘frutas hospitalares’’.


Outro hábito da nossa gente é ter pijamas para dormir, ou levar para o hospital.


Esquecem que um paciente ao se internar no hospital recebe ‘o uniforme hospitalar’, diferente dos pijamas de mangas e pernas compridas ou curtas.


Meu pai em casa só usava pijamas de mangas e calças compridas.


Tenho pijamas no meu ‘enxoval’, porém não me lembro de ter usado alguns deles, sendo todos de calças e mangas curtas.


Minha roupa predileta em casa são as bermudas, calções e camisetas.


Durmo só com a camiseta, a minha companheira inseparável.


Fui ficando velho e abandonei outros hábitos como o uso de meias, sapatos fechados, camisa social, gravata, blazer e ternos.


O calor de Cuiabá também me ajudou na mudança do meu vestuário, transformando muitas roupas em peças inúteis.


A gente escreve tanta besteira, mas são observações de toda uma vida que registro!


Interessamo-nos em saber como vivem os esquimós, e incluo o hábito de se vestir de um cuiabano.


Gostaria de saber as razões que fizeram do pijama uma roupa necessária para dormir, assim como ‘frutas nobres’ devem ser levadas aos pacientes nos hospitais do SUS.


Nunca receitei maçãs e peras, tarefas dos nutricionistas hospitalares.


Gabriel Novis Neves

17-06-2024




terça-feira, 18 de junho de 2024

POR ONDE PASSEI


Vou tentar me lembrar das pensões por onde passei no Rio de Janeiro, e das casas que morei em Cuiabá.


Praia de Botafogo, rua Almirante Tamandaré, rua Marquês de Abrantes, rua Correa Dutra, Praça do Catete, rua Paissandu, avenida Atlântica, rua Senador Vergueiro.


Na rua Marquês de Abrantes morei em três endereços diferentes, e na Almirante Tamandaré em dois.


Tive vários companheiros de quarto, iniciando com Carlos Eduardo Epaminondas, Celso de Barros, José Vidal, Juvenal Alves Corrêa, Ney Pinheiro.


Com a chegada do Pedro, meu irmão, ele passou a ser meu companheiro até o meu retorno à minha cidade natal para exercer a profissão de médico.


Aqui em Cuiabá, morei na rua de Baixo, rua do Campo, Marechal Floriano, Marechal Deodoro, Major Gama e Estevão de Mendonça.


Cada moradia tem a sua história e que merecia ser escrita.


Todas as residências que morei me deixaram um aprendizado.


A mais ‘glamorosa’ foi a da avenida Atlântica, no quarto do 10º andar de frente para o mar.


Como era gostoso dormir ouvindo ‘os cânticos’ das ondas do mar e acordar naquele cenário da praia mais famosa do mundo — Copacabana.


Estava começando a ‘bossa nova’ e me lembro quando comprei o disco ‘Chega de Saudade’, gravado por Agostinho dos Santos.


Aprendi com o casal de judeus da pensão da avenida Atlântica, que comida não se desperdiça, mesmo que seja uma rodela de tomate!


A mais ‘elegante pensão’ foi a da rua Paissandu, com vizinhos ilustres: Alceu de Amoroso Lima, Fernando Ferrari, Tarso Dutra, Jaime Cortesão, Murilo Mendes.


Pensão era só o quarto de dormir. Café da manhã no botequim. As refeições eram no restaurante universitário, na Praia Vermelha.


Na rua senador Vergueiro a vizinha ilustre era irmã do poeta Vinícius de Morais.


Acumulei durante esses anos no Rio de Janeiro, muito conhecimento e que me serviu de bússola para o resto da minha vida.


Foi na rua Senador Vergueiro que ‘descobri’ a futura mãe dos meus filhos.


Fui um ‘andarilho’ percorrendo e aprendendo por onde passei.


Dou graças a Deus, pela oportunidade recebida!


Gabriel Novis Neves

15-06-2024