Nada
mais informal e despretensioso do que uma boa conversa de rua. Ela é aquela que
comumente chamamos de “jogar conversa fora”.
Muitas
vezes saímos de casa sem disposição para conversar, principalmente quando vamos
fazer nossa caminhada matinal e terapêutica.
No
entanto, uma paradinha aqui, outra acolá, ouvimos as “novidades” contadas por
novos e velhos amigos, acabando sentados numa roda de novidadeiros.
Impossível,
após alguns minutos, não participar desse papo descontraído sobre o cotidiano e
todo envolto com muito humor.
Nas
conversas de rua tudo é permitido, menos colocar o nome da mãe, como bem nos
ensina o “pobre marquês”.
No
meio dessa conversação quanta verdade aparece!
Quando
participo delas sempre volto para casa com muita munição para meus artigos.
No
período eleitoral os assuntos são tão abundantes que ninguém tem vontade de
abandonar o ambiente saudável da informação para não ficar com a sensação que
estarmos deixando de aprender histórias verdadeiras, que só encontramos na
tradição oral, pois elas jamais serão escritas.
Um
amigo me disse, numa dessas conversas, que na sua fazenda as árvores floridas
estavam muito bonitas.
Logo
outro retruca dizendo serem elas imprestáveis.
Não
suportando a observação negativa para a beleza que lhe transmitia tanta
alegria, aciona seu moderno celular e mostra a todos a beleza da “inutilidade”.
Aplausos
gerais! Todos elogiaram o capricho da natureza. Perguntaram então ao pragmático
materialista se, por acaso, beleza não serve para nada na sua filosofia de
vida.
Foi
o sinal para que todos dessem as suas opiniões sobre beleza.
Alguém
citou o velho adágio popular que “beleza não põe mesa”.
Depois
de longos minutos de discussão sobre o tema, este foi bruscamente desviado para
outro assunto. Peculiar neste tipo de conversa e que, na maioria das vezes sem
nenhuma consciência disto.
Entretanto,
no caso em questão, o assunto foi encerrado porque alguém pediu ao autor da
frase - “árvore bonita não serve para nada” - (com certeza pensando na ausência
dos seus frutos e qualidade da sua madeira para comercialização), se ele
poderia mostrar uma foto da sua namorada.
Silêncio
total. Todos no aguardo da foto, que não apareceu. Mas, em questão de segundos,
o assunto foi mudado tranquilamente, sem traumas ou mágoas.
O
tema em pauta ficou sendo o problema do retorno da inflação, que logo foi atropelado
por outro, por outro e por mais outro.
Assim
são as conversas de rua. Ninguém diz nada com nada e fica o dito pelo não dito.
Gabriel
Novis Neves
11-10-2014
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