Aos
seis anos de idade fiz minha primeira viagem ao Rio de Janeiro.
Acompanhado
de meus pais, de uma irmã de três anos e de um irmão de meses, deixamos Cuiabá
em uma manhã chuvosa e embarcamos em um pequeno hidroavião que se encontrava no
Rio Cuiabá.
Lembro
que chorei muito com medo daquele “bicho” que corria pelas águas e voava por
cima das nuvens.
Entrei
no avião apavorado e, logo depois, adormeci deitado no colo de meu pai.
Com
certeza trocamos de aeronave para pousarmos no aeroporto Santos Dumont no Rio
de Janeiro.
Dessa
viagem só me recordo do embarque e do “escorregador” da Praça do Lido no Posto
2 em Copacabana.
Minha
segunda viagem foi também para o Rio, aos dezessete anos, em um “possante” DC3
herdado da Segunda Guerra Mundial.
Fui
com o meu pai conhecer a cidade onde iria completar o meu ensino médio e me
preparar para o vestibular de medicina.
Lembro-me
de muitos detalhes dessa viagem, mas, o que mais me impressionou, foi conhecer
uma figura folclórica muito influente na política nacional.
Estava
almoçando na Galeria Cruzeiro no centro do Rio, quando entra Tenório
Cavalcanti, então deputado federal pela UDN, todo vestido de preto, com chapéu
da mesma cor e uma capa preta que protegia uma bela metralhadora alemã!
Barba,
bigode e charuto, além de um pelotão de guarda-costas que protegia aquela
personalidade.
Com
a minha entrada para a Faculdade de Medicina virou rotina minhas viagens para a
Cidade Maravilhosa, por longos doze anos.
Mesmo
após o meu regresso à Cuiabá, para ser médico do interior, agora com família,
minhas viagens sempre tinham como destino exclusivo o Rio de Janeiro.
Nosso
ponto de apoio ficava no bairro do Leme, quase na Ponta do Leme, de visão
inesquecível pelas suas belezas naturais.
Mesmo
tendo vivido toda a minha mocidade no Rio, em um período de efervescência
cultural com o nascimento da bossa nova e tsumanis políticos, como o suicídio
do Presidente Vargas e o Movimento de Março de 1964, nos últimos cinco anos o
Rio saiu da minha rota de viagens.
Com
o tempo passando, e com a certeza que tenho muito mais passado que presente e
futuro eu creio ter ainda uma missão a ser cumprida aqui na Terra.
Voltei
a incluir o Rio nos meus poucos deslocamentos da minha cidade-mãe.
Embora
belo, já que a natureza foi pródiga com aquele litoral, sinto uma imensa
tristeza quando vejo que o Rio de Janeiro continua lindo, porém com a
criminalidade fora do controle.
O
medo tomou conta dos seus moradores e visitantes. Os bairros foram deformados
com grades de ferro protegendo seus edifícios, tudo em nome da segurança.
Como
diz o poeta Paulinho da Viola, o Rio “foi um rio que passou em minha vida”. O
progresso expulsou a inocência pura das suas manifestações culturais e pontos
de lazer.
Mesmo
assim, considero o Rio de Janeiro como minha segunda morada. Identifico-me com
o Leme da Ponta e com Ipanema, que é a cara do Rio de Janeiro.
Maltratada
e humilhada, a Cidade Maravilhosa continua sendo a capital cultural e da beleza
do Brasil.
Gabriel
Novis Neves
20-11-2014
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