segunda-feira, 24 de novembro de 2014

RIO


Aos seis anos de idade fiz minha primeira viagem ao Rio de Janeiro.
Acompanhado de meus pais, de uma irmã de três anos e de um irmão de meses, deixamos Cuiabá em uma manhã chuvosa e embarcamos em um pequeno hidroavião que se encontrava no Rio Cuiabá.
Lembro que chorei muito com medo daquele “bicho” que corria pelas águas e voava por cima das nuvens.
Entrei no avião apavorado e, logo depois, adormeci deitado no colo de meu pai.
Com certeza trocamos de aeronave para pousarmos no aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro.
Dessa viagem só me recordo do embarque e do “escorregador” da Praça do Lido no Posto 2 em Copacabana.
Minha segunda viagem foi também para o Rio, aos dezessete anos, em um “possante” DC3 herdado da Segunda Guerra Mundial.
Fui com o meu pai conhecer a cidade onde iria completar o meu ensino médio e me preparar para o vestibular de medicina.
Lembro-me de muitos detalhes dessa viagem, mas, o que mais me impressionou, foi conhecer uma figura folclórica muito influente na política nacional.
Estava almoçando na Galeria Cruzeiro no centro do Rio, quando entra Tenório Cavalcanti, então deputado federal pela UDN, todo vestido de preto, com chapéu da mesma cor e uma capa preta que protegia uma bela metralhadora alemã!
Barba, bigode e charuto, além de um pelotão de guarda-costas que protegia aquela personalidade.
Com a minha entrada para a Faculdade de Medicina virou rotina minhas viagens para a Cidade Maravilhosa, por longos doze anos.
Mesmo após o meu regresso à Cuiabá, para ser médico do interior, agora com família, minhas viagens sempre tinham como destino exclusivo o Rio de Janeiro.
Nosso ponto de apoio ficava no bairro do Leme, quase na Ponta do Leme, de visão inesquecível pelas suas belezas naturais.
Mesmo tendo vivido toda a minha mocidade no Rio, em um período de efervescência cultural com o nascimento da bossa nova e tsumanis políticos, como o suicídio do Presidente Vargas e o Movimento de Março de 1964, nos últimos cinco anos o Rio saiu da minha rota de viagens.
Com o tempo passando, e com a certeza que tenho muito mais passado que presente e futuro eu creio ter ainda uma missão a ser cumprida aqui na Terra.
Voltei a incluir o Rio nos meus poucos deslocamentos da minha cidade-mãe.
Embora belo, já que a natureza foi pródiga com aquele litoral, sinto uma imensa tristeza quando vejo que o Rio de Janeiro continua lindo, porém com a criminalidade fora do controle.
O medo tomou conta dos seus moradores e visitantes. Os bairros foram deformados com grades de ferro protegendo seus edifícios, tudo em nome da segurança.
Como diz o poeta Paulinho da Viola, o Rio “foi um rio que passou em minha vida”. O progresso expulsou a inocência pura das suas manifestações culturais e pontos de lazer.
Mesmo assim, considero o Rio de Janeiro como minha segunda morada. Identifico-me com o Leme da Ponta e com Ipanema, que é a cara do Rio de Janeiro.
Maltratada e humilhada, a Cidade Maravilhosa continua sendo a capital cultural e da beleza do Brasil.

Gabriel Novis Neves
20-11-2014

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