segunda-feira, 6 de outubro de 2025

LEQUES, ABANICOS, VENTAROLAS


As ventarolas eram feitas de papel ou de palha e, além de aliviar o calor, serviam de adereço e até de arma contra o tédio.

 

Também eram usadas por mulheres na menopausa, para enfrentar as ondas de calor decorrentes da falência da função ovariana.

 

Naquele tempo, ninguém cogitava em reposição hormonal para aliviar esses fogachos.

 

Esses leques, abanicos ou ventarolas, eram produtos artesanais, feitos com bom gosto e beleza.

 

Recordo-me das senhoras que se abanavam com eles, em passeios pelo Jardim, nas festas, nos clubes e nas reuniões sociais.

 

Quantas vezes fui à antiga cadeia pública de Cuiabá, em frente ao Estádio Presidente Dutra, no Porto, comprar dos internos artesões lindos leques.

 

Minha mãe os oferecia de presente às suas amigas.

 

Os detentos fabricavam também cobiçados caminhõezinhos de madeira, bilboquês e outros brinquedos que não se não encontravam nas lojas cuiabanas.

 

A cadeia transformou-se por anos, no Centro de Reabilitação D. Aquino Correa.

 

Hoje não sei ao certo o que é.

 

Parece apenas um prédio abandonado, prestes a ruir.

 

O novo presídio foi construído longe do centro da cidade.

 

Já não conheço ninguém que use leque, nem sei se ainda são fabricados.

 

A cidade, no entanto, segue cada vez mais quente, a ponto de ganhar o apelido de Cuiabrasa.

 

As mulheres menopausadas recorrem à reposição hormonal, e os ambientes são refrigerados, como este meu escritório onde escrevo agora.

 

Escrevo sobre a Cuiabá da minha infância e sinto uma saudade imensa.

 

Não apenas das pessoas queridas que já partiram, mas também da beleza que a cidade tinha.

 

A rua 15 de Novembro no Porto era arborizada, com seus canteiros a embelezar o traçado.

 

Seus casarões guardavam histórias silenciosas.

 

O rio Cuiabá, piscoso, enchia-se de pescadores e canoas ao entardecer.

 

As embarcações eram, então, as únicas vias para chegar ou sair da cidade.

 

Essas chegadas, quando se tratava de pessoas importantes, seguiam um ritual solene.

 

Foi assim que o meu bisavô baiano ficou noivo, em um jantar de confraternização oferecido para celebrar sua vinda a Cuiabá.

 

Gabriel Novis Neves

02-10-2025








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