No plantão da cuidadora de domingo, ela entrou no quarto para me levar os medicamentos, enquanto eu acompanhava pela televisão uma partida de futebol.
De repente, apenas ela ouviu o chiado da panela que havia deixado no fogão.
Saiu apressada, sem nada dizer, e correu para desligar o fogão.
Até então eu nada sabia.
Nem sequer percebi o som.
Ao retornar, explicou-me que estava cozinhando arroz integral e que aquele chiado forte era o sinal que já estava na hora de desligar a panela.
Esse som constante dominava as cozinhas das antigas casas cuiabanas.
Era um ruído que misturava ansiedade, fome e a certeza de que o feijão logo estaria pronto.
Naquele tempo, a cozinha ficava próxima à varanda, e sabíamos que o almoço estava prestes a ser servido pelos sons que vinham de lá.
Haverá som mais espalhafatoso que o de um bife fritando na frigideira?
Trabalhar com gordura quente é arriscar bolhas no dorso das mãos.
Mas tudo que é frito, convenhamos, tem um sabor irresistível.
E o que dizer dos sons produzidos por uma churrascaria?
De longe já se ouvem vozes misturadas ao estalar das brasas e ao ambiente enfumaçado.
Ao sair, carregamos impregnado na roupa o perfume da carne assada.
Hoje, muitos restaurantes preferem cozinhas blindadas, com possantes exaustores antirruídos, como acontecia na Casa Suíça.
Onde todas as mesas ficavam em área descoberta.
Curioso: o som da panela de pressão é chamado de chiado, o mesmo termo usado para descrever uma crise de asma brônquica — perceptível até sem estetoscópio.
Que saudade tenho de um chiado: dos dias ensolarados, da alegria de um passado que permanece dentro de mim.
Gabriel Novis Neves
06-10-2025
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