O telhado da casa da rua do Campo, um antigo casarão reformado, foi dividido para dar origem a outra residência com fundos voltados para a rua da Fé.
Foi construído em adobe e coberto com telhas de barro, sem forro.
Na periferia, porém, as casas simples tinham telhado de zinco.
Quando morei no Rio, vi que as moradias erguidas nos morros eram chamadas de favelas, e seus tetos, quase sempre, eram de zinco.
Essas casas ficaram conhecidas como barracões de zinco, fonte inesgotável de inspiração para os sambistas.
Quase todos os morros tinham sua escola de samba, e a mais famosa era a da Mangueira.
Sua gente era trabalhadora e boa parte vivia da música.
Cantores ricos do asfalto subiam os morros para comprar sambas ou propor parcerias em futuros sucessos, como fez Chico Alves — o Rei da Voz.
Cartola, fundador da Mangueira, chegou a vender inúmeros de seus sambas, que acabaram registrados em nome de terceiros.
Como era gostoso ouvir a chuva forte batendo nos telhados simples das casas cuiabanas, trazendo aconchego!
À noite, quando já dormíamos, o barulho da tempestade às vezes vinha acompanhado de borrifos que molhavam nosso rosto.
Bastava puxar o cobertor e voltar a dormir, bem protegido.
Na chácara do meu cunhado à beira do rio Cuiabá, o quarto onde eu ficava tinha cobertura de zinco.
O barulho era muito mais intenso, mas, ao mesmo tempo, agradavelmente acolhedor.
Essas lembranças da juventude ainda hoje transbordam emoções.
Não encontrei nada que tocasse tanto a minha sensibilidade quanto o som da chuva — fosse no telhado de terra ou no de zinco — espalhando sons e borrifos.
Cresci e perdi muitos desses aconchegos da natureza: o banho de chuva, as brincadeiras nos córregos, riachos e tanques, riqueza da Cuiabá de outrora.
Gabriel Novis Neves
01-10-2025
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