Nas manhãs ensolaradas, o jardim da cobertura do meu apartamento era o palco para as abelhas.
Vinham em revoada, atraídas pelas flores que se abriam em silêncio, espalhando perfume e cor.
O zumbido constante anunciava vida e movimento — um som que, desde sempre, fez parte da paisagem das casas cuiabanas.
Minha mãe dizia que as abelhas eram trabalhadoras incansáveis e respeitavam quem respeitasse o seu espaço.
Eu ficava observando, curioso aquele vai e vem disciplinado.
Cada abelha parecia saber exatamente o que fazer — nenhuma se perdia, nenhuma se atrasava.
Havia no jardim roseiras, jasmins e manacás.
As abelhas pousavam com leveza nas pétalas e, num instante, levantavam voo levando o pólen para outras flores.
Sem saber, realizavam o milagre da reprodução das plantas, garantindo que o jardim florescesse o ano inteiro.
De vez em quando, um grande enxame aparecia, formando uma nuvem no ar.
Era o sinal de que uma nova rainha havia nascido e parte da colmeia saía em busca de morada.
Esses enxames não são perigosos — apenas mudam de casa.
Em poucos dias, partem em silêncio, deixando para trás o perfume das flores e o susto dos curiosos.
As abelhas só atacam quando percebem ameaça à colmeia.
Defendem a rainha e o mel com coragem admirável, mesmo que o preço seja a própria vida.
Quando uma abelha ferroa, morre logo depois.
É o seu sacrifício pelo bem da comunidade — um exemplo de amor coletivo.
Na agricultura, são as grandes jardineiras do mundo.
Ao transportarem o pólen de flor em flor, garantem frutos, sementes e fartura.
Mais de setenta por cento dos alimentos que chegam à mesa dependem desse trabalho silencioso.
Hoje, quase não se veem abelhas nos jardins das cidades.
Mas, quando uma surge sobre uma roseira, paro para escutar o seu zumbido.
É como ouvir a voz da natureza, ainda viva e paciente, lembrando que a vida floresce no silêncio.
Gabriel Novis Neves
27-10-2025
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