Na varanda das casas antigas havia sempre uma cadeira de palhinha, leve e resistente, que parecia feita para guardar segredos.
Não era apenas um objeto de sentar: era o trono da vovó nas tardes quentes, o descanso do pai depois do almoço de domingo e o balanço improvisado das crianças que nela subiam sem pedir licença.
O trançado firme da palhinha, já gasto pelo tempo, guardava histórias invisíveis, como se cada fio tivesse absorvido conversas, silêncios e risadas.
Com o passar dos anos, a cadeira se tornou testemunha da vida que girava em torno da varanda.
Era ali que se discutiam assuntos sérios e também se contavam piadas.
Quantas vezes alguém puxou a cadeira para mais perto da porta, como quem buscasse um pouco de sombra ou o frescor da brisa da tarde? Era simples, mas oferecia um conforto que os estofados modernos nunca souberam dar.
Quando a palhinha começava a ceder, alguém da família levava a cadeira para o artesão do bairro.
Ele trançava novamente, fio a fio, com paciência e capricho.
Voltava renovada, como se tivesse ganhado mais tempo de vida, pronta para ser ocupada por novas gerações.
A cada reparo, parecia reforçar não apenas a sua estrutura, mas também a tradição de estar presente.
Hoje, poucas casas guardam cadeiras de palhinha.
Foram substituídas por móveis descartáveis, que não resistem à pressa dos dias atuais.
Mas, em mim, permanece a lembrança daquela cadeira na varanda, tão silenciosa quanto eloquente.
Ela me ensinou que os objetos também têm memória e que, às vezes, basta se sentar para sentir que não estamos sozinhos: há sempre um fio invisível nos ligando ao passado.
Gabriel Novis Neves
07-10-2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.