quarta-feira, 15 de outubro de 2025

BILHETE DA PADARIA


Na mesa da cozinha minha mãe deixava um bilhete rápido, escrito a lápis: “Comprar pão e trazer café. ”

 

Esses recados curtos tinham a simplicidade de quem organizava a vida sem precisar de grandes discursos.

 

A vida de então era simples — e as pessoas faziam de tudo para não complicá-la.

 

Fui educado nessa escola da simplicidade. Durante toda a minha vida, como médico e administrador público, procurei seguir o mesmo princípio: facilitar a vida de quem dependia de mim.

 

Diferente de minha mãe, eu não escrevia bilhetes.

 

Preferia ir pessoalmente até as pessoas para ajudá-las a resolver suas dificuldades.

 

Hoje tudo é complicado.

 

A burocracia parece querer nos engolir, e quase ninguém está disposto a compartilhar seus problemas.

 

Pequenos favores se transformam em grandes dificuldades.

 

Em qualquer setor da sociedade a simplicidade é o melhor caminho para organizar a vida.

 

Ela é tão simples de ser vivida — por que complicá-la?

 

Nas classes mais humildes ainda há solidariedade nos pequenos gestos: comprar um pão na padaria da esquina, emprestar uma xícara de açúcar para o café da tarde, oferecer ajuda sem esperar nada em troca.

 

Serviços essenciais como a saúde pública, deveriam seguir o mesmo princípio: serem simples, humanos, rápidos.

 

Mas muitos ainda morrem na fila, esperando um atendimento médico de urgência.

 

E isso, em pleno século XXI!

 

O mais triste é ver que tais tragédias se repetem quase todos os dias, sem despertar o mínimo de compaixão nos técnicos e na sociedade.

 

Repito, hoje é tudo tão complicado que chega a causar revolta.

 

Até as crianças são impedidas de ajudar os pais o que, sob o pretexto de proteção, termina por afastá-las da sensibilidade social.

 

Comparo os meus tempos de juventude com os de agora e noto a imensa distância entre um simples bilhete escrito a lápis e a frieza das mensagens digitais.

 

Um bilhete que, sem palavras rebuscadas, ensinava o valor da responsabilidade, do afeto e da vida.

 

Gabriel Novis Neves

11-10-2025




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