Na velha cômoda do quarto havia uma gaveta dedicada às fotografias.
Ali dormiam rostos sorridentes, festas de família e o tempo congelado em preto e branco.
Naquele tempo não era fácil tirar fotografias. Em quase todas as casas cuiabanas havia uma gaveta reservada para guardá-las — lembranças silenciosas de famílias numerosas e felizes.
Com o aparecimento dos celulares, bastou um pequeno toque no botão para capturar imagens coloridas.
Vieram também os inúmeros fotógrafos profissionais com seus estúdios espalhados pela cidade, e as antigas gavetas foram se enchendo de álbuns de fotografia.
Hoje, as milhares de fotos dos celulares são salvas em pastas do computador.
Tenho quinze pastas, cada uma com sua respectiva data.
Os álbuns com momentos especiais estão guardados nas gavetas do escritório e da escrivaninha da sala de visitas.
Nos gabinetes públicos que ocupei, sempre havia um fotógrafo profissional registrando a história.
Algumas dessas fotos eu trouxe para casa, mas a maioria ficou nos arquivos dos órgãos públicos.
Hoje, com a televisão, os atos oficiais são filmados.
Existem emissoras públicas, como a TV Assembleia, a TV Tribunal de Contas e a TV Universitária, aqui em Cuiabá.
As emissoras comerciais também registram os eventos históricos e tudo é arquivado — documentos visuais que, com o tempo, se transformam em história.
O pioneiro na arte de fotografar os acontecimentos de Cuiabá, na primeira metade do século XX, foi um armênio chamado Lázaro Papazian, conhecido como Cháu.
Fotografava os eventos sem ser convidado e, depois, voltava com o álbum pronto, oferecendo-o aos interessados.
Muitas vezes, contava as reações dos retratados no momento do clique.
Foi ele quem registrou o cuiabano Presidente Dutra visitando, de madrugada, o túmulo da mãe, no Cemitério da Piedade.
Infelizmente, um incêndio em seu estúdio, na rua do Meio, destruiu parte valiosa da nossa memória visual.
Enquanto, para visitar o historiador Estevão de Mendonça na rua do Campo, era preciso se desviar de pilhas de livros e revistas, no caso do Cháu o obstáculo eram as fotografias e os álbuns que guardavam a alma de uma Cuiabá que já não existe mais.
Gabriel Novis Neves
16-10-2025
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