segunda-feira, 28 de novembro de 2022

MORREU O CIRURGIÃO AMIGO DE TODOS


A semana iniciou com seus moradores sem entenderem o que havia acontecido: seu médico morreu!


No dia anterior à sua morte, ele passou com seus amigos do Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá reunidos na festa de confraternização de final de ano.


Passou o dia cantando, tocando violão com um grupo, e era também ritmista.


Depois foi descansar em sua casa que ficava nas proximidades do Hospital.


Os filhos mais velhos estavam viajando para o exterior, na Disneylândia, Estados Unidos da América do Norte.


Dr. Nadim por duas vezes teve oportunidade de nos deixar.


A primeira vez quando sofreu ruptura de um aneurisma havendo necessidade de um enxerto.


Foi transferido em um jatinho do seu plano de saúde para a cidade de São Paulo, onde foi operado com sucesso, retornando para Cuiabá.


A outra vez foi quando acometido pelo Covid 19 não teve condições de ser removido da UTI.


Permaneceu por semanas internado e obteve alta hospitalar para casa, sucesso esse alcançado pelas correntes de orações dos seus amigos, e competência dos médicos que o trataram.


Voltou a exercer as suas funções de médico no Jardim Cuiabá, e também na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, reformado na patente de Coronel.


Sou bem mais velho que ele, e o hospital do meu dia a dia não era o seu.


Conheci Nadim quando estava montando o curso de medicina da UNIC.


Precisava de um cirurgião de “mão cheia” para lecionar a disciplina cirurgia geral para os alunos do quinto e sexto ano.


Aqueles que eu conhecia já eram professores de medicina da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, a pioneira.


Conversando com o neurocirurgião Nicandro Figueiredo, professor da Universidade de Cuiabá, sobre as minhas dificuldades ele me respondeu:


“Chame o Nadim”.


Depois me passou oralmente o seu currículo.


Nicandro saiu do meu gabinete com o contrato do Nadim e com a recomendação de iniciar os seus trabalhos no dia seguinte no antigo Hospital Geral de Cuiabá.


Ele era conhecido entre os colegas como o médico dos casos difíceis.


Depois que deixei a direção da faculdade de medicina perdi o relacionamento com o grande mestre humanitário.


As notícias sobre seu falecimento me chegaram através de irmãos, cunhada e sobrinhos, que sempre trataram os seus males com ele.


Ele primeiro cuidava do paciente, e só depois discutia seu honorário, que ficava a cargo deste.


Nadim vivia no hospital, estando sempre disponível para socorrer aqueles que precisavam de um médico.


Acho que ele não tinha a menor ideia do quanto era querido pela nossa gente.


Morreu com dignidade, vítima de um infarto do miocárdio em casa, e lá de cima deve ter constatado também como era querido na Polícia Militar, local do velório e translado do corpo até o cemitério.


O cuiabano reconheceu o seu humanismo e espírito de caridade ao próximo.


Cuiabá perdeu o seu cirurgião geral, e em situações de dificuldades médicas não poderão mais dizer:


“Chame o Nadim!”


Gabriel Novis Neves

24-11-2022




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.