segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O MÉDICO COMO PACIENTE


Aprendi na faculdade de medicina que a prescrição de medicamentos é da competência médica.


Até certo ponto é assim que funciona.


Entretanto, quando o médico é o paciente as coisas não são assim.


Estou fazendo a minha oitava imunotransfusão de imunoglobulinas.


A primeira vez que fiz foi há dois anos, quando estive internado no Hospital Sírio Libanês em São Paulo.


O motivo da internação foi identificar e tratar das causas das minhas repetidas pneumonias.


Entre os mais complexos exames complementares de imagens e análises clínicas, depois de minucioso exame clínico, retirei dois pólipos do intestino grosso, e as dosagens de imunoglobulinas e subgrupos deram abaixo da normalidade.


A infectologista indicou inicialmente quatro dias seguidos de reposição das imunoglobulinas no hospital.


A doutora me avisou que, apesar de eu não ter indicadores de alergia, os nove frascos de cinquenta gramas cada, seriam feitos em gotejamento bem lento na veia, para evitar efeitos colaterais como enjoos, elevação da pressão arterial e temperatura corporal, entre outros possíveis.


No segundo dia, após terminar a aplicação, minha temperatura axilar atingiu 37,5º, e não fiz uso de antitérmicos.


No dia seguinte a infecto me disse que estava com os resultados do laboratório de análises clínicas, não havendo mais necessidade das outras duas aplicações no hospital, me liberando para casa.


Daí para frente à minha infecto de Cuiabá ficaria atenta na investigação laboratorial, e é o que faço há quinze meses.


Nunca mais tive pneumonias nem outro tipo de infeção, e as minhas dosagens estão sempre na faixa da normalidade.


No dia anterior da minha primeira imunoinfusão foi realizado, por enfermeira especializada no quarto do hospital, um procedimento de preparar com cateter, uma veia profunda da face anterior do meu braço direito, guiado por ultrassom e imediatamente certificado da sua posição por raio X.


Estou fazendo no Centro de Infusão de Cuiabá, o meu sexto procedimento, e o pessoal da enfermagem já me conhece muito bem.


Sabem que eu não tenho efeitos colaterais ao medicamento, minhas veias são ótimas, sempre as achando na primeira vez.


Sentindo-me em casa, pedi a excelente técnica de enfermagem, que fizesse acelerar o gotejamento da droga chinesa em minha veia, para encurtar o meu tempo de permanência lá.


Ela me respondeu, acertadamente, que não poderia fazer nada, pois era prescrição médica.


Cuidadosamente, lembrei a ela que eu era médico e era um pedido meu.


Mesmo assim me disse que nada mudaria a sua decisão, pois ali eu era um paciente e a prescrição foi feita pela médica responsável pelo Centro de Infusão.


Antes de chegar ao local do procedimento fui atendido na triagem, pela médica professora de medicina, com uma folha impressa com o pedido da minha infecto.


Na solicitação da infecto ao plano de saúde, ela prescreveu o medicamento com o gotejamento lento, desconhecendo o meu desejo de aumentá-lo com segurança total para o paciente.


A medicina é uma profissão difícil de conquistar, e mais ainda de ser exercida.


Gabriel Novis Neves

17-11- 2022




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