quinta-feira, 17 de novembro de 2022

A MÚSICA QUE VEM DE LONGE


Estou no escritório do meu apartamento no 20º andar do edifício onde moro, em frente à rua Estevão de Mendonça, antiga rua do Caixão.


Estou fazendo o de sempre aos domingos pela manhã, escrevendo minhas crônicas.


Não escrevo à noite, pois durmo cedo, e às vezes sonho que estou escrevendo, o que não é pesadelo.


Ao acordar, poucas vezes me recordo do assunto, que brota assim que abro a tela do computador.


Hoje estou modernizado inclusive para ser entrevistado à distância, com fundo da tela com cortina escolhida por foto do computador e iluminação apropriada produzida por um círculo de lâmpadas leds brancas para evitar sombras.


Depois da minha última entrevista onde aparecia um rio, achei melhor colocar um quadro do nosso artista plástico Adir Sodré.


Ele retratou com extrema fidelidade a Praça Alencastro, nosso primeiro Jardim Público, com suas belas palmeiras imperiais de tantas histórias.


Seus jardins floridos, bancos de concreto, calçadas internas e sinuosas de passeio, onde surgiram muitos namoricos e casamentos, pequenas muretas separando as calçadas que a circundavam.


O bar do Bugre, com suas inúmeras portas para a Praça Alencastro, bar Pinheiro, o prédio assobradado da Prefeitura Municipal.


O coreto e chafariz importados da Inglaterra foram transplantados para a Praça Ipiranga, hoje abrigo e banheiro para moradores de rua, mendigos, usuários de drogas e doentes mentais.


As letras desta crônica aparecem no computador como se fossem digitação de textos decorados.


Os cadernos de rascunhos, tão indispensáveis num passado recente, me dão a certeza que a modernidade chegou a mim.


Faço PIX pelo aplicativo do banco pelo celular, e não caio mais na tentação de abrir mensagens que recebo diariamente para conferir os meus gastos em bancos, e que são golpes diários, alertam meus gerentes.


Meu escritório fica de frente para os fundos de um café-restaurante na avenida Filinto Muller.


Ouço uma música que vem de longe e acho que é daí.


Um violão, caixa de som com amplificador e a voz grossa e harmoniosa de uma cantora, com o que há de melhor na nossa moderna música popular, e me traz alegria.


Alguns moradores do meu prédio sentem-se incomodados com esse show que todos os domingos tem o seu início às oito horas da manhã.


São aqueles que pretendem dormir até à hora do almoço.


A mim não atrapalham mesmo diminuindo seu volume por reclamações dos moradores do meu edifício, pelo contrário, essa música que vem de longe me estimula a pensar e trabalhar.


Tenho amigos que vêm de bairros distantes, como o Coxipó, para tomar o café aí em datas especiais e ouvir muitas canções de Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Tim Maia.


Estou “modernoso na última idade” e como exemplo estou enviando ao editor do Bar do Bugre, o youtube das duas partes de uma entrevista que dei, à Laura Campos por aplicativo, no canal de televisão TBO de Cuiabá.


Como é gostoso ouvir música, mesmo que venha de longe!


Gabriel Novis Neves

06-11-2022





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